terça-feira, 28 de maio de 2013

QUESTIONAR DEUS (OU DEUSES) É PROFANO?

Segundo o filósofo grego Xenófanes (570-475 a.C.),  cuja biografia,  confesso,  acabei de conhecer agora e de forma bem superficial através dos sites da Internet... Segundo este personagem da Filosofia, não são os deuses que criam os homens à sua imagem e semelhança,  mas ocorre exatamente o inverso.  Não poderia eu em nenhuma análise deixar de comungar com as idéias daquele homem, porque ao longo da sua existência a humanidade vem imprimindo sua forma física e suas características morais e psíquicas aos deuses que criam, atibuindo-lhes os sentimentos e valores que adquirem e alimentam ao longo da vida.
Você deduziria que este meu texto é um discurso absolutamente ateu, e eu diria que a rigor é ateu, sim.  Mas ateu unicamente quanto à figura específica de Deus, como também em relação aos inúmeros deuses inventados pelos politeístas, politeístas entre os quais enquadro os católicos... Os católicos, sim!  Sim, porque o que são os santos senão deuses menores em relação ao deus supremo?  Há santo dos olhos, das dívidas, da justiça, etc, enquanto os romanos tinham os deuses-lares, os da orgia, da guerra, com a maioria adotada da Grécia com nomes modificados.
Sem querer me ater à doutrina católica (ou a refutá-la), é mister que eu elucide que a minha dissertação, se  coloca-se contra os chamados deuses, não nega (como infelizmente não afirma nem pode afirmar) a existência de coisas entre o céu e a terra além do sonhado pela Filosofia.   Porque ser ateu não é necessariamente ser materialista.  É possível acreditar numa vida espiritual sem se admitir a existência de um deus onisciente e onipresente, julgador infalível e voltado permanentemente para as questões que afligem os homens.  Esta crença (do deus único e que tudo pode) é extremamente simplista, como é profundamente simplista dizer que não exite nada e ponto final (!), sem uma análise mais detida e acurada.  Por que inventar um todo-poderoso é fruto da preguiça e inércia das pessoas, que preferem criar um pai que lhes dê o que anseiam a arregaçar as mangas e lutar por seus objetivos, pela justiça atrelada ao seu senso do que é justo.  Ou seja, melhor o pai fazer tudo do que o filho mobilizar-se por aquilo de que precisa e a que aspira.  Da mesma maneira as criaturas agem em relação aos políticos: não elegem presidentes ou apoiam reis ou sei lá o quê para resolverem todos os problemas de que precisam elas se livrar? Acham que é só botar um cara lá no centro do poder para ele lhes dar a justiça social e todos os benefícios de que carecem.
Voltando porém à questão metafísica, poder-se-ia perfeitamente imaginar um mundo espiritual sem lutas entre o bem e o mal, mas com uma coexistência quase sempre pacífica entre ambas as correntes, que seriam, cada qual por seu turno, predominantemente uma coisa ou outra, mas nunca boa ou ruim unicamente.  Se entre os espíritos poderia haver os que nos protegessem ou tentassem nos proteger, ou ainda nos pudessem ou tentassem prejudicar, a questão ficaria difícil de ser respondida, porque  envolveria avaliar o nível de poder dos espíritos.  A vida espiritual poderia ser muito parecida com esta daqui da Terra, com percalços e mazelas, alegrias, dificuldades e tristezas, os espíritos sendo nós próprios(não deuses) em outro lugar, sem que ninguém estivesse a se aperfeiçoar a cada dia, em rumo a uma elevação a um plano astral pleno de benesses e de espíritos de elevada bondade e moral.  Os que professam tal paraíso não estariam demasiadamente envolvidos pelas histórias fictícias com finais felizes  lidas, ouvidas e assistidas desde a mais remota infância?
Agora suponho: e se a vida espiritual for uma decorrência da vida material, ou seja, se não houver espírito pré-existente para animar a matéria e, ao contrário disto, o espírito for somente um resquício do ser que morre?
E, para quase terminar, pergunto: e se não houver nada? Nada, absolutamente nada!  Nada além do que as mãos tocam e os olhos veem, as narinas cheiram, os ouvidos escutam e a língua degusta?  E se não houver mais nada?  Nada, nada e nada mesmo?  Como ficamos?
Então, para finalizar, gostaria de que me respondessem se em minhas proposições fui profano, ofensivo ao sagrado (sobretudo se minha concepção de sagrado for absolutamente diversa da sua), sórdido, arrogante, irreverente?  Por que levantar tais hipóteses faz a gente angariar a antipatia e o ódio de meio mundo?  Se vocês, como crédulos e tementes a Deus, me execram, é porque são iguaizinhos aos romanos que perseguiam e martirizavam os cristãos, tendo em comum com eles a intolerância ao questionamento da ordem religiosa estabelecida.

Barão da Mata


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