segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

A VISITA INESPERADA NO CARNAVAL


Imagine se hoje,  plena segunda de Carnaval, recebo uma visita inesperada.  Alguém de pouco contato, ou um contraparente com esposa, filha e namorado, um casal de adolescentes sem graça.
Abro a porta com um sorriso largo e amarelo - por mais que tente alargá-lo, será impossível não notar o desapontamento.
- Oi! Há quanto tempo?!! - cumprimento fingindo  alegria.
O cara me abraçaria, eu, recém-saído do banho, ele, suado dos 45 graus de calor que faz no Rio, me dando um banho de suor.  A esposa, risonha e antipática, dando as pontas dos dedos pra apertar.  Os adolescentes fazendo um breve arco com as bocas, sem mostrar os dentes.
Sentam-se todos,  eu pergunto ao pai da família o que tem feito.
- Nada! - ele responde dando de ombros - Eu tô de férias!
Fico sem assunto e me limito a observar:
- Que legal!  Morrro de inveja. Tô doido pra me aposentar.
Ele me pergunta da família inteira, eu lhe passo uma série de relatórios para gastar tempo.  Depois, para provar que não sou desinteressado das pessoas, também lhe pergunto dos seus:
- E o seu pai? Como está?
- Ué?? Você não se lembra que ele morreu ano passado?  Inclusive você mesmo disse que não poderia ir ao enterro e que era pra eu ter coragem e ser forte naquele momento.
Aperto  os dedos por algum tempo, não me dou por vencido, penso um pouco e digo:                                  
- Pois é!  Eu lembro! Perguntei porque você é kardecista e acho que tem tentado psicografias, essas coisas, e acompanhado a  condição e evolução dele no mundo espiritual...
- Mas faz três anos que eu te falei que me converti à Igreja Presbiteriana.  E não sei por que a pergunta, se você já me falou que é agnóstico....
Finjo que nada aconteceu  e me volto para o casalzinho  antipático:
- E aí? Já tem casamento programado aí?
E aí a mãe se manifesta, quase indignada, o nariz e os olhos franzidos:
- Que é isso?! Novos demais!  Quero que a Michele estude.
Porra! E antigamente a primeira coisa que as mães das meninas queriam era casamento, mesmo que fosse aos doze anos.  Não dou uma dentro.  Limito-me a sorrir sem graça.
Depois o cara passa uma hora falando em trabalho, das suas bravuras dentro da empresa em que trabalha e de como ele cresceu e chegou aonde está, e o porquê de merecer a vida bem-sucedida e feliz que leva.
Após uma dissertação de uma hora e meia, tento saber se querem uma "pizza". Pego o telefone para ligar para a pizzaria, e aí descubro  que as pizzarias estão fechadas e todos tão de dieta, inclusive e Michele, que tá inexplicavelmente com o colesterol alto apesar da idade, embora passe os dias comendo " hamburgher" nessas lojas de franquia de lanches toda santa noite.
Num dado momento ele dispara:
- E você?  Não tá casado, não?
Vontade de dizer: "Seu filho da puta! Se eu estivesse casado, o que acha que minha mulher estaria fazendo numa noite de Carnaval, às dez e meia da noite?"
- Não - tento explicar - aquela moça com quem você me viu não era uma relação séria.
Aí ele aproveita a deixa e me metralha, na única piada da noite ( e uma piada picante):
- Você deve ser muito ruim de cama, hem? Não segura ninguém.  Será que você é broxa?
Uma gargalhada geral.  a dos adolescentes parece que nunca vai terminar.  A mulher do cara, de vestido  relativamente curto, ainda tem o cuidado de juntar bem as coxas o tapar o triângulo de entre as pernas durante a risada, tirando a possibilidade da única alegria possível naquela noite.  Não posso reagir à altura pela presença de menores e da senhora formal.
O cara ainda me humilha:
- Tu já tá bem velho, hem?  Não demora e ninguém vai te querer.
Durante a visita, fico me cobrando: "Por que diabo não sou folião?  Por que não estou na folia, pagando bebida prás novinhas, numa situação entre o vovô bonzinho e o otário velho , para voltar pra casa sem ninguém e bêbado feito um corno apaixonado, ainda sendo roubado na corrida de carro?  Pelo menos eles chegariam aqui e não me encontrariam em casa."
Mas há situações piores, e eu vivi uma dessas hoje.  Como a comida de um restaurante a trinta metros de minha casa e não me precavi com provisões porque a funcionária do estabelecimento me garantiu que abririam hoje. Não abriram.  Odeio sol, calor, escola de samba e Carnaval, e hoje, por conta da informação errada, andei sob o sol escaldante um terço de quilômetro pra encontrar um lugar pra poder almoçar.   E não é que, ao me sentar à mesa, voltei a atenção prá tevê do local e, prá minha desgraça infinita, a sintonia estava na Globo, e três comentaristas analisavam o desfile das escolas, além de um deles anunciar a "alvíssara" de que a temperatura se elevaria a trinta e seis graus para a felicidade do desfile e dos foliões?  Foram os trinta minutos mais infelizes da minha vida.
Antes tivesse recebido a visita imaginária.

Barão da Mata


               




sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

DA DUVIDOSA DEMOCRACIA NO BRASIL


A QUE NÃO EXISTE

Aquela que seria  para o povo, em que os clamores da sociedade seriam ouvidos, em que prevalece a vontade da maioria, os cidadãos são respeitados no seu direito à manifestação e à integridade física.  No Brasil não há democracia para a população porque as manifestações populares são massacradas com violência, as reivindicações contra os políticos e o sistema  são ignoradas por estes e omitidas ou pouco destacadas pela mídia. As medidas do Governo não são discutidas com representantes da sociedade civil, mas unicamente com os setores afeiçoados ao poder estabelecido (centrais e movimentos governistas, PMDB, ator Mílton Gonçalves e outras instituições e pessoas congêneres); as decisões são tomadas e executadas de cima para baixo, e quem não gostar que se rasgue.



A QUE EXISTE

A democracia para os políticos, porque o ministro do Supremo Marco Aurélio de Mello mandou que Renan Calheiros deixasse a Presidência do Senado, este desobedeceu, e a Presidente da Corte,  Carmen Lúcia, ao invés de cobrar do magistrado expedição de mandado de prisão contra o político desobediente, limitou-se a declarar que não queria "colocar mais lenha na fogueira".


Barão da Mata

TEMER, "OFFICE BOY" DAS ELITES, E O PODER CONTRA O POVO



Quando as elites... e entenda-se por elites os empresários, os banqueiros, os agronegociantes, os donos de jornais, revistas, emissoras de tevê, de rádio, de redes de hotéis e restaurantes, etc... quando as elites, após aperceberam-se de que o País tinha ido à bancarrota - graças a décadas de corrupção ocorrida em gestões petistas, pessedebistas, pemedebistas e vai por aí adiante... quando as elites se deram conta de que o Brasil afundara num mar de lama e de degradação econômica, acharam que era a hora de dar um golpe de mestre e se apossar dos restos deixados pelos ladrões de gravata e colarinho e de enriquecerem ainda mais, concentrando nas mãos de uma vez por todas a totalidade da renda nacional.
O conluio funciona da seguinte forma: convoca-se um setor dessa camada abastada, a mídia, principalmente a Globo, para vender à opinião pública que, sem a aprovação da PEC da morte (já aprovada), das reformas da previdência e trabalhista, o emprego acaba de vez, a União não tem como pagar aos aposentados, e um caos dantesco e definitivo toma conta deste pedaço aqui da África. Depois chamam-se os políticos para chutar o PT pra córner... não porque o partido estivesse na contramão dos interesses da gente rica, mas porque é preciso fazer um teatro, dando à conspiração contra o Brasil inteiro um aspecto de faxina moral e ética. A seguir colocam as marionetes Michel Temer e Henrique Meirelles, componentes (bom lembrar) desse mesmo topo da pirâmide para implementar, junto com outros componentes-marionetes do sistema que são os já mencionados políticos (dentre os quais uma quantidade absurda está envolvida nos crimes que faliram a Nação) todas as mudanças que farão os ricos muito mais ricos, e os pobres muito mais miseráveis, sem o menor acesso à educação, à alimentação ao menos condigna, à saúde, à habitação, ao saneamento básico, à segurança, criando uma população inteira de indigentes que morrem nos corredores dos precariíssimos hospitais e vivendo a baixíssima qualidade de vida dos povos africanos. Não sei se vocês já notaram, mas o Brasil caminha a passos largos para a africanização mais deplorável, sobretudo em virtude da aprovação da PEC da morte, que já citei e congela os gastos do Governo por 20 anos.
Se a PEC da Morte visa a acabar com as despesas do erário com os cidadãos, a reforma da previdência finda de vez com a aposentadoria, e a reforma trabalhista é o tiro de misericórdia que reinstaura por aqui de forma peremptória a escravidão. Quem não tem férias remuneradas, décimo-terceiro, FGTS, jornada de trabalho razoável é o quê? Trabalhador ou escravo?
As perversas e diabólicas medidas irão agravar muito mais a recessão, gerando uma retração absurda nas vendas do comércio e consequentemente da indústia, aprofundarão o flagelo do desemprego, e aí você vai-se perguntar se assim essas elites vão provar do próprio veneno, sofrendo as consequências dos males que elas próprias criaram. Eu respondo que não, porque a verba pública poupada com as reformas, além da arrecadada com a pesada carga tributária sobre a classe média (que nem sei se assim poderá ser chamada), agraciará as empresas com incentivos e renúncias fiscais, investimentos, subsídios, bônus, empréstimos vultosos e generosos, além de os privilegiados pouparem uma fábula com a diminuição dos gastos com a mão-de-obra, e os preços subirem para suprir a redução da demanda dos produtos, que serão consumidos pelos poucos com poder aquisitivo para tanto. Um número pequeno de escravos será bastante para movimentar a reduzida indústria e o pouco comércio, e os sem-emprego, diga-se de passagem, morrerão de fome, desnutrição e outras mazelas. Será um processo como se as mais altas castas se fechassem comercialmente para a sociedade nacional. 
 Você agora irá querer saber se os políticos não estarão dando um tiro no pé por conta do desgaste que sofrerão com a aprovação das medidas do Governo. Eu digo, sim, mas estarão usando sapatos e roupas blindadas, para evitar que até estilhaços atinjam-lhes qualquer parte do corpo, porque, lembre-se, também são membros dos mais opulentos grupos sociais e, se o empresariado será fartamente obsequiado pelo poder público, imagine a contrapartida que terão esses políticos. Em outras palavras: valerá a pena ficar impopular e não se eleger durante alguns anos ou para sempre.
Em suma, a missão do fantoche Temer, abraçada por este com enorme empenho e prazer, é colocar tudo nas mãos das elites, em detrimento de uma sociedade inteira, que viverá num país africano dentro da América Latina.