terça-feira, 22 de setembro de 2020

PASTOR ISAÍAS MORREU NO PUTEIRO, COMO UM GRANDE MISSIONÁRIO

 Pobre Pastor Isaías!   O nome bíblico já mostra seus dons divinais.  Isaías fora o profeta que anunciara a vinda do Messias setecentos anos antes do nascimento deste.  Um predestinado então  nosso santo salvador de almas, condutor de ovelhas, propalador da palavra de Deus, ardente e veemente servo de Jesus,  missionário do Senhor devotado à causa de lapidar e aperfeiçoar os espíritos para o ingresso no Reino dos Ceús.

Pobre Pastor Isaías!  Foi morrer justo num puteiro!  Mas nenhum homem pode fugir ao seu destino.  E esse destino fora-lhe dado pelo Pai Eterno, que quer os homens evangelizados, achados sejam esses onde quer que seja.  Apesar de ter morrido num lugar tão vil , num espaço tão hostil à virtude e tão  impregnado de pecado, nosso amado cristão só ali estava porque cumpria a incumbência que todo bom evangélico  se dá de prestar a caridade e apregoar a Palavra mesmo nos locais de mais lascívia, de maior degradação humana, os antros mais ignóbeis e sórdidos, porque pretendem sempre,  a despeito dos ambientes em que venham a pisar,  ensinar aos pecadores o caminho da honra, da retidão e da salvação. 

O Nobre Pastor, elevado, ascético, adentrou o prostíbulo sem a bíblia sob o braço porque os seus mais de vinte anos de dedicação a Jesus já lhe permitiam saber de cor e repetir aos degenerados os versículos, as parábolas, os  salmos, os mandamentos e as diretrizes do Todo Poderoso.  Pois assim, munido do conhecimento e pejado de bondade, Isaías adentrou o alcoice e, após cumprimentar os seguranças e garçons, homens que há mais de dez anos tentava converter nas três vezes semanais em que ali entrava... Após cumprimentá-los, o bondoso cristão dirigiu-se às moças que ali dançavam e se exibiam nuas ou semidespidas, e o modo como com elas lidava era pleno de simpatia e de sorrisos, tão benevolente era o sublime religioso que não tinha preconceitos nem se dava a discriminações para aquelas pobres mulheres distantes do mérito e da grandeza, mas que por ele eram olhadas com olhos cheios de atenção e interesse.  Comove-me saber que o Bom Pastor,  afável e terno como todo ser do bem, além de sorrir-lhes tocava-as carinhosamente pelo corpo inteiro, demorando-se um pouco nas regiões mais íntimas, talvez por assim tentar entender por que meras partes do corpo feminino podem trazer em si o estranho poder de desviar os homens e levá-los à perdição. 

Examinava, examinava o Santo Pastor e, após sorver um comprimido azul com uísque -- zeloso da própria saúde --, resolveu escolher três dentre aquelas pecadoras para pregar-lhes os santos ensinamentos no quarto, talvez para não serem incomodados pela música alta que tocava no salão.  

A fé e a missão dos homens escolhidos por Deus levam-nos a tantos sacrifícios! Como não bastasse haver de adentrar a alcova com aquelas pecadoras contumazes, a humildade fez que o iluminado mestre se despisse como elas.  São terríveis as provações por que tem de passar um  humano que se dedica a servir a Deus em toda a plenitude da expressão:  entre uma e outra dose de uísque (talvez para poder suportar o martírio a que se submetia), o puro Pastor teve de vencer toda a repulsa, todas as náuseas e introduzir o angelical pênis naquelas tão indecentes criaturas. 

Assim, não é de surpreender que o grandioso devoto tenha sucumbido no meio do cumprimento do seu alto dever de cristão, caindo sem vida para um lado, os olhos arregalados e a boca aberta como se fora cantar um cântico aos Céus.   Dizem muitos religiosos que Deus não dá a um filho uma cruz mais pesada do que a que ele possa suportar, e foi arrebatando-o que o Senhor livrou-o daquele mal de estar desnudo em meio a toda aquela triste libertinagem. 

O Pastor Isaías foi um mártir que sacrificou a própria vida tentando purificar almas naquele lugar tão corrompido, imoral, tão vicioso e tão infernal.  Homens como o Pastor Isaías vão sempre para o Reino de Deus... e passam a fazer parte daquela legião de anjos de que o Senhor se cerca  para tornar o Céu um lugar ainda mais belo e magnífico.

Barão da Mata