terça-feira, 6 de agosto de 2013

UM SÁBADO TRANQUILO (OU QUASE) ENTRE NOSSOS PERSONAGENS

Era um sábado calmo e temperado.  Como sempre os nossos personagens estavam reunidos num botequim. 
Herculano tinha um olhar um tanto distante, comentou:
- Vocês sabem que eu hoje senti saudades da minha primeira mulher?
Marcinha se interessou:
- Você ainda gosta dela?
- Gostar não - Herculano respondeu - Foi só uma saudade que bateu.  Deve ser TPR.
- TPR??? - todo mundo ficou espantado e curioso.
- É! Tristeza pós-ressaca. - e Herculano chamou o homem do bar : - Traz um mata-leão pra combater a tristeza!
Platãozinho ficou pensativo por momentos, depois falou:
- Todo mundo tem marcas do passado, não é?  Eu fui uma criança muito triste...
- Mas por quê? - quis saber Rosinha.
- Porque meu pai e minha mãe nunca me bateram.
- Ué? - perguntou Herculano - E o que isso tem de mal?
- É menosprezo demais, vocês não acham?
- É? - Marcinha, boquiaberta.
- Meus coleguinhas viviam exibindo marcas de tabefes, de chineladas, de surras de cinto, e eu ficava com vergonha, me sentia diminuído e diferente, porque não tinha nada pra mostrar.
- Mas você era peralta? - perguntou Herculano.
- Não, - respondeu Platãozinho - mas não podiam me dar uma porrada que fosse de vez em quando, por menor que parecesse, mesmo que fosse uma porrada simbólica, pra eu me sentir igual aos outros?
- Ora, Platãozinho, isso não é motivo pra complexos: meus pais também nunca me bateram.  Conversavam comigo, me ensinavam o que era certo e o que era errado, repetiam, diziam que eu não podia fazer isso e aquilo, e eu obedecia.
- Lá vem a menina-modelo - debochava Breno - toda certinha. Agora eu, por minha vez, acho que apanhei até demais: duas vezes.
- Vai dizer que não merecia. - Marcinha o questionou. 
- Puxa! - ele respondeu - Eu não podia nem torturar os filhotinhos de gato que encontrava.
Marcinha se levantou da cadeira, irritada:
- Você fazia isso, seu verme?!!!
Breno fez menção de agredi-la. Dois homens fortes e de músculos avantajados o contiveram:
- Fica aí, sentado, covardão, e ouve, senão nós fazemos com você o que você fazia com os gatos.
Breno encolheu-se e continuou o relato:
- Pois é.  Eu torturava, mas não deixava sofrendo, depois matava.
Tiveram de segurar Marcinha e também os dois homens que advertiram o vândalo.  Até Platãozinho, que nunca se alterava, chamou-o de infame e desgraçado, alguém impediu Herculano de dar-lhe uma garrafada na cabeça.
Mais calma, respirando fundo, Marcinha perguntou:
- E seus pais? Como procediam?
- Minha mãe - respondeu Bruno - ainda tentava me bater, mas meu pai não deixava, e ainda morria de rir.
- Fora daqui, seu facínora! Psicopata, sórdido, perverso! - um dos homens fortões ordenou.
- E sai daqui sem cantar pneu, de cabeça baixa e sem falar com ninguém.
Breno obedeceu rigorosamente e foi embora de mansinho, acabrunhado e macambúzio: homens como ele não gostam de páreos duros.
- Não sei o que esse subverme faz no meio da gente. - comentou Marcinha -  Vem sempre sem ser convidado.
Rosinha balançou a cabeça:
- Fiquei indignada com o Breno.
Herculano abriu os braços: 
- O que vocês esperavam?  Ele tem o perfil perfeito do cara que faz direção perigosa ao volante.  São todos assim, é tudo breno esterco.
- Depois abriu os braços: - Mas isto aqui hoje tá parecendo um divã. - e dirigiu-se ao homem do bar: - Mistura umas cinco bebidas num copo duplo, pra quebrar esse clima! - voltou-se para os amigos: - Por isto que eu digo: bebida é o melhor terapeuta: você bebe e esquece até que os políticos fazem sexo na gente o tempo todo.
Rosinha deu uma longa e sensual olhada nos dois atletas que haviam ameaçado Breno Esterco e depois contou:
- Já eu apanhei muito, tanto do meu pai quanto da minha mãe.
- Mas por quê? - indagou Marcinha - Era tão endiabrada assim?
- Mais ou menos - Rosinha respondeu com um ar malicioso - Só porque eu queria ficar só brincando com os meninos e ficava pelada no meio deles...
- Hmm, sei! - ironizava Marcinha.
- ...E porque me pegaram no matinho fazendo umas coisas com menino algumas vezes...
- Algumas vezes?
- Acho que umas quinze, dezoito vezes,  perdi a conta.
- Nossa!
- Sempre o mesmo menino?
- Não, quinze ou dezoito diferentes.
- Mãe do Céu!!
- Ah, deixa de besteira: hoje são todos meus amigos.
- Que bom!
- São amigos mesmo.  Ás vezes um ou mais de um me dão até banho, mas como ninguém  é de ferro, sabe ...?
- Entendo -  Marcinha, incrédula, balançava a cabeça.
- Ficamos todos muito amigos, e olha que uns oito deles já casaram, mas ainda assim  me procuram... e a gente fica conversando, conversando... Ai(!), e aí é difícil ficar conversando sem a coisa rolar!
Platãozinho ficou a olhá-la fixamente, desejoso e tímido, Rosinha continuou:
- Até o seu Antônio da farmácia, que já saiu comigo duas vezes, diz que eu tenho uma amizade muito bonita com eles.  Seu Pedro da mercearia diz a mesma coisa quando tá comigo no motel.  O Joca, meu primo, quando toma banho comigo diz que tudo aquilo é supernormal.  Só quem discorda é o Anderson, o irmão do meu namorado, que quando acampa comigo diz que tudo aquilo tá errado. O dono aqui do botequim já me convidou pra ir à casa dele...
- Pra conversar com ele e a família? - perguntou Marcinha.
- Nada! Ele mora sozinho, e só não fui até agora porque tô com a agenda lotada.  Acho que vou lá na terça-feira.
- A próxima?
- Não, a outra. Não disse que tô de agenda lotada?
- Rosinha....!
- Só cunhados eu tenho que encontrar dois até lá.  Eles gostam muito de mim, sabe?
Marcinha balançou a cabeça numa reprovação e Rosinha prosseguiu, e olhava os dois musculosos à sua frente:
- Acho que vou ter que alterar minha agenda e passar aqueles dois na frente do dono aqui do bar.

Leônidas e Barão





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