A princípio achei que fosse ficar acabrunhado por falar em Economia, mas logo em seguida me lembrei de que Fernando Henrique foi ministro da Fazenda apesar de ser sociólogo (sociólogo nada voltado pra o social, como bem mostrou em seu governo) e, no advento do Plano Real, pelos seus discursos, até me pareceu que a obra fora dele, não de Pérsio Arida, Edmar Bacha e companhia. Vocês veem? Se estou sendo pretensioso, ele foi antes. Para sentir-me mais à vontade para falar em gestão de finanças públicas, trago à nossa memória que Antônio Palocci comandou a área econômica do Brasil durante bons anos apesar de ser médico. Se argumentarem que este era médico, mas seria um grande estudioso de economia, fico com muita pena de sua clientela.
Bem, mas o fato é que quero mais uma vez ter a pretensão de falar em economia começando com um comentário introdutório sobre o socialismo. Durante muito tempo acreditei no sistema defendido por aqueles que por aqui se diziam de esquerda, mas a guinada à direita que estes deram para desfrutar as benesses do poder me fizeram entender bem que tudo era mera retórica, questão de vender uma imagem para obter respaldo da opinião pública, essas coisas, e que isto não foi um processo ocorrido somente no Brasil: Miterrand, na França, e Felipe González, na Espanha, também se apresentavam como socialistas, mas nunca soube de seus países algum dia terem feito um gestão de cunho socialista. A própria ex-União Soviética, reduzida hoje a Rússia, mãe do socialismo mundial, nunca foi, paradoxalmente, um exemplo de prática de equidade sócio-econômica, limitando-se a ser estatista e autoritária. Donde concluímos que socialismo é, infelizmente, uma simples utopia, mas não por uma suposta impraticabilidade do sistema e sim em virtude da venalidade dos políticos e sua indisposição de confrontar-se com o poder econômico, que tem força para destruí-los e lhes oferece regalias tentadoras. Não há quem resista, não é?
Ficando patente que os políticos tornararm o socialismo uma utopia,
pergunto se não existiria alguma saída para que não vivêssemos este neoliberalismo sonso em que o Brasil vive. Ou seja, porque o governo tem discurso progressista, arrota que é voltado para o social e no entanto não é menos conservador e reacionário do que o tecnocrático sociólogo Fernando Henrique. Aliás, PT e PSDB só diferem na sigla, no mais são exatamente iguais. Rezam pela mesmíssima cartilha, seguem uma bula comum, só diferindo em que o atual partido governista não é um privatista tresloucado como o de FH.
Mas esqueçamos a incongruência do governo entre discurso e prática e toquemos na questão da injusta e perversa distribuição de riquezas do Brasil. Se a reforma agrária praticada pelo atual governo está muito longe de sê-la na plenitude da palavra, pois é pífia e quase anedótica; se as indústrias jamais serão estatizadas nem seus frutos distribuídos entre os seus trabalhadores; se os bancos continuarão não produzindo nada e arrecadando oceanos de dinheiro, pois do contrário os grandes empresários daqui e do exterior fariam com os nossos "nobres" governantes o que fizeram com Jango... se não há definitivamente como dividir as terras e os complexos industriais e comerciais, algum grupo de gestores e políticos verdadeiramente corajosos poderiam começar a vender a ideia de mexer em vespeiro e taxar as grandes fortunas ( o que já botou o "bom" Bresser no olho da rua), pois isto mataria essa fome de arrecadação do governo, que recolhe demais e sofre de obesidade fiscal mórbida, e poderia, se tivesse a bondade de promover uma renúncia fiscal que permitisse aos empresários pagar bem menos do que pagam por cada emprego gerado (desonerar a mão de obra e produção), além de tocar na legislação trabalhista de modo que obrigasse os produtores e patrões a pagarem salários que atendessem às necessidades dos trabalhadores e seus familiares, conseguiria reduzir significativamente as desigualdades. É certo que alguém de condição social privilegiada argumentaria que, se os salários ficariam vigorosos, como o erário faria para pagar as aposentadorias? Então eu diria que então chegaria o momento de os banqueiros serem mobilizados e encarregados de partilhar este ônus com o setor público, o que, além de permitir o pagamento de aposentadorias condignas, daria ao governo ainda folga para construir hospitais e escolas públicas e pagar bons salários a médicos e professores (se, é claro, combatesse severamente a corrupção). Garanto que ainda sobraria para investir em habitação e segurança pública.
Vê? Seria necessário a renúncia voluntária do governo, que precisa ser menos gordo e faminto, e a compulsória dos empresários e banqueiros. O problema é que, repito, seria preciso mexer em vespeiro. E aí eu lhe pergunto: o que é melhor para o político: cutucar onça com vara curta e correr o risco de sofrer o efeito Jango ou garantir para si e pimpolhos a perenidade de todo aquele fausto, toda aquela ostentação, com caviar, absinto, "poire", patê de ganso, uísque escocês e outros luxos que a carreira política sempre proporciona? Ficou bem entendido, amigo? Embora seja possível e praticável, mesmo fora de um sistema socialista, uma sociedade bem assistida e de melhor distribuição de recursos, percebe porque nada é feito com tal objetivo?
Barão da Mata
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