MARCELO BIZAR é cantor, compositror, instumentista, escritor e poeta. No momento vive a glória de lançaR UM LIVRO DE POESIAS, "AQUERELE", que é lírico, dotado de senso crítico, profundo e que em alguns momentos mostra um jeito novo de escrever. Vale a pena adquir um volume, nós o recomendamos ao leitor.
Foi em meio à sua euforia pela divulgaçao do trabalho que nos deu a seguinte entrevista:
PENSADORES: Você, como todo mundo, sabe que o Brasil não gosta de ler. Assim sendo, eu pergunto: a que desafio se propôs ao editar o seu livro?
MARCELO BIZAR: Editei o livro por conta própria, sabendo que o brasileiro não tem o hábito da leitura porque em primeiro lugar queria realizar um sonho antigo. Escrevo desde meus 14 anos, hoje tenho 42. Sempre gostei muito de ler e quando passei a escrever sonhava em um dia poder ter um livro escrito por mim. Acho que compartilho o sonho de muitos escritores. O brasileiro lê pouco, poesia então nem se fale... mas como escritor que cresceu antes da Internet queria meus livros publicados. O desafio é o de todo escritor, principalmente ser lido.
PENSADORES: Como você preparou seu livro? Veio aguardando que as idéias lhe viessem, sem compromisso de meta e de tempo, ou tomou a decisão de publicar uma série de poemas e arregaçou as mangas, se dando prazo para lançá-lo?
MARCELO BIZAR: Preparei o livro com poemas que tinha guardado há muitos anos. O livro pra mim significa uma espécie de marco. Marca um momento na minha trajetória de escritor. Nós acabamos guardando nossos poemas ou resolvemos lança-los para que outros leiam, gostando ou não... acho que foi meio por aí essa decisão. Não teve um prazo, teve um sentimento de lançar o livro para marcar uma trajetória.
PENSADORES: É o seu primeiro livro?
MARCELO BIZAR: Sim, o Aquarele é meu primeiro livro de poemas.
PENSADORES: Um dia desses li em alguma revista que um bom número de escritores se queixam de as pessoas estarem lotando a internet de poesia. É verdade que vejo algumas ruins, mas são incontáveis as excelentes que leio nas redes sociais. Você não acha que há por parte dos literatos renomados uma espécie de preconceito e autoendeusamento, onde eles acham que "meros mortais não são capazes de escrever"?
MARCELO BIZAR: Acho válido que aqueles que escrevem tenham a Internet como ferramenta para publicar seus poemas e livros mesmo. Os escritores que se queixam de um possível congestionamento de poemas na Internet não devem ser escritores de verdade.A poesia, a escrita, a arte não pertence a quem tem publicações conhecidas e renomadas. Acredito que aqueles que são considerados grandes escritores um dia escreveram seus péssimos poemas, livros e se alimentavam dos mesmos erros que todos aqueles que escrevem cometem. Será que algum escritor só lançou obras maravilhosas? Tenho minhas dúvidas... aliás não tenho dúvida nenhuma, eles, os renomados, já divulgaram muita coisa ruim, é preconceito ou medo? E tem mais... o leitor de um poema quem decide se é bom ou ruim para ele, não a mídia ou a crítica.
PENSADORES: Mais algum projeto para adiante?
MARCELO BIZAR: Muitos projetos (risos) que um dia pretendo realizar. Também sou músico e compositor e tenho algumas canções que gostaria de lançar em CD... ou divulgar na Internet, quem sabe. Um dos projetos inclusive é lançar um CD com minhas canções com o parceiro do Pensadores de Birosca, poeta com quem fiz algumas canções e que sou leitor atento pois gosto muito de suas poesias... Barão da Mata! Também tenho projetos de lançar um romance e um livro de contos brevemente.
PENSADORES: No romance, que linha você adotará? Fará crítica social, retratará o cotidiano ou penderá para um campo menos realista?
MARCELO BIZAR: Olha... é difícil dizer... sempre quis liberdade ao escrever e tenho dois projetos de romance. Um deles é um romance policial com críticas políticas... as críticas são veladas, mas procura retratar um pouco da política real que vivemos. Já um outro projeto é um livro de ficção científica, gênero que aprecio bastante.
PENSADORES: Você me contou que é filho do Caboclinho, compositor, que conseguiu viver de compor. Que conjuntura a seu ver torna hoje em dia isto tão raro e quase
impossível?
MARCELO BIZAR: Sim, meu pai, K-boclinho... assim que ele cunhou seu nome artístico (risos) já teve músicas gravadas por alguns nomes famosos da nossa MPB... Luiz Gonzaga, Ney Matogrosso e outros nomes gravaram a música 'Pra não morrer de tristeza.', que inclusive foi tema da novela Saramandaia na sua primeira versão. Ele também lançou seus LPs, como se dizia na época (risos) e hoje em dia, com seus 80 anos, lançou um CD em 2012 e pretende lançar o segundo em 2014. Ele não desistiu de sua arte, assim como vejo que não desistirei também... acho que todos que se expressam artisticamente não querem desistir de um dia viverem de sua arte, o que acho justo pois produzir artisticamente também é trabalho. Já disseram... são 10 por cento de inspiração e 90 por cento de transpiração. A mídia que é patrocinada pelo grande capital não se interessa por expressões artísticas alternativas... eles querem é manter seus imensos lucros, por isso mesmo acho que devemos produzir por nossa própria conta. Muita gente de imenso talento está fazendo seu trabalho, apersar de não darem oportunidade. Faço parte de uma associação de compositores de samba e gêneros afins... é o Samba na Fonte. Toda terça-feira nos reunimos na Lapa/RJ numa roda de samba diferente... só podemos cantar sambas que nós mesmos compomos e que não tenham sido gravados, sambas inéditos e autorais. Nesse ambiente convivo com compositores de excelente talento que estão na luta com suas músicas há muito tempo e que nesse espaço conseguem apresentar suas composições. Acho que falei muito agora (risos)!
PENSADORES: Se levarmos em conta que um trabalho musical bem elaborado é difícil de abrir portas no mercado do livro (assim como no da música), enquanto a subliteratura e a submúsica (composições totalmente desprovidas de qualidade) ganham uma repercussão impressionante, a que você você atribui esse fenômeno? A investimentos largos por parte das editoras e gravadoras no que é de mau gosto ou às péssimas preferências populares?
MARCELO BIZAR: O público é levado por um trabalho grandioso de Marketing. Não é que haja mau gosto popular. Cartola é popular até hoje, Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil também são populares... eles não têm a divulgação que aqueles que fazem música e literatura atrelados às grandes corporações capitalistas, mas estão na briga. Acho que há uma visão mercadológica tacanha, querem levar às massas somente o que é entretenimento de rápido consumo. Isso não é bom! Querem idiotizar as pessoas. Querem torná-las de fácil manipulação.
PENSADORES: Não é possível para os editores de livro e música investir no que é qualificado? Eles adotam caminho antagônico por preguiça de trabalhar ou para garantir vendagem num país de economia sempre em crise?
MARCELO BIZAR: Os editores querem garantir seus lucros, querem garantir sua riqueza financeira, com certeza. Reproduzem somente o que deu certo. Se investem em algo novo tem que ter apelo mercadológico. Aliás, não só apelo mercadológico... tem que ser apelo de grandes vendagens. Dissemos anteriormente que o Brasil é um país de poucos leitores... é verdade. Em compensação é país de grande compra de livros. O brasileiro compra livros. O brasileiro da classe média especialmente. Só que compra os livros que são lançados pelas grandes editoras e que recebem uma divulgação extraordinária. Quase nunca são bons livros. São obras lançadas para vender mesmo. Já são lançadas com a editora contabilizando seus lucros. A obra musical é a mesma coisa. As gravadoras querem lançar o que é certo para elas venderem bem... não se preocupam com o resultado artístico... qualidade é palavra que não se encontra no dicionário deles.
PENSADORES: Se o país tem uma conjuntura difícil para quem escreve, que caminho você pretende percorrer em rumo ao sucesso? Se levarmos em conta que a editora não está investindo em divulgação, quais serão suas opções para fazer a obra conhecida e obter um lugar no mercado?
MARCELO BIZAR (Risos): ... não, não pretendo sucesso. Sei que isso é uma quimera... da maneira que estou lançando o livro, patrocinado por mim, sem divulgação maciça, sem uma grande editora por trás... sem chance (risos). Minha intenção foi lançar a obra porque queria dizer algo.Algo meu. Não sei nem se vai servir para alguém (risos) mas não lancei esperando algo grande. Quero só manter o direito de poder me expressar... à minha maneira, sem uma editora dizendo: "isso vende, isso não vende, tira isso do seu livro, coloca um poema assim...", nada disso. Sucesso deve ser consequência. Me sinto cheio de sucesso por poder fazer essa entrevista (risos). Por certo que gostaria de uma editora cobrindo os custos e despesas e fazendo uma boa divulgação... mas sei que isso é muito difícil atualmente.
PENSADORES: Agora, voltando à questão da música, você compõe e canta mais ou menos há quanto tempo?
MARCELO BIZAR: Também há um tempo. Desde meus 16 anos... já faz mais de 20 anos (risos)... já participei de banda de música tocando clarinete (risos), já toquei em bandas de rock, de blues, corais de igreja e cantei à noite com voz e violão. Hoje canto no Samba na Fonte e pretendo lançar meus CDs ainda... de forma independente eu acho...
PENSADORES: Por que dificuldades em geral um artista na área da música passa para se projetar no meio artístico?
MARCELO BIZAR: Nossa... tá difícil... pra caraca, pra não dizer outra coisas (risos). Conheço muitos, olha que são muitos mesmo... grandes cantores e compositores... pessoas da maior excelência, pessoas que admiro demais e que brigam por seu lugar ao sol, ou na mídia, há um bom tempo... no nosso movimento de compositores convivo com alguns que já passaram por meio século de existência, que compõem desde novos e que ainda estão na luta para serem conhecidos... compositores excelentes que admiro e fico pensando no que ocorre... quando ligo o rádio e ouço as coisas que tocam com mais frequência... desanima... as dificuldades são em todos os setores... é difícil gravar um CD, é difícil aparecer na mídia... e agora as grandes gravadoras estão dizendo que sofrem por não venderem mais discos... será que elas pensam que algum otário vai sentir pena delas... o cara tem que ser muito otário pra acreditar nisso... elas estão riquíssimas, já lucraram na história um valor absurdo e não fizeram nada em troca para músicos e compositores
PENSADORES: Se considerarmos que um governo deveria ter um papel social, e ter um papel social é também zelar pela cultura, não acha que nossos governantes deveriam, não através de proibições, mas de estímulos e incentivos, intervir parar que os empresários das letras e das músicas fossem mais seletivos na hora de editar o que lançam na praça?
MARCELO BIZAR: Acho que a cultura literária e musical deve ser incentivada sim. Deve ser incentivada através de muitos, muitos investimentos. Os que existem são poucos, se prestam a beneficiar uma 'panelinha' que já foi criada há muito tempo. Não sou especialista na área de produção artística mas o que sinto é a necessidade de uma maior responsabilidade nessa área daqueles que lucram horrores com o que vendem de livros e CDs. O teatro também é uma área pouco incentivada, assim como a dança. Acho que cultura educa e faz as pessoas terem uma visão crítica da sua realidade... o governo não quer isso. Conheço mais a área da música nesse sentido... sei que muitos músicos brasileiro vivem no exterior porque lá encontram mais incentivo de continuarem seu trabalho do que aqui no Brasil.
PENSADORES: Nós aqui já divulgamos todas as músicas que você compôs comigo, Barão, e agora gostaríamos de que postasse aqui um vídeo em que cante algo que tenha criado
sozinho ou com outro parceiro.
MARCELO BIZAR: Aliás, fico agradecido pela divulgação e pelas maravilhosas poesias. O Pensadores de Birosca é um espaço democrático e aberto à liberdade de expressão. Isso é importante, isso é mídia cultural, é jornalismo cultural.Gosto muito da postura crítica de nossa realidade que é uma das diretrizes do blog... pelo menos é o que observo. Bem... quanto ao vídeo gostaria de deixar um gravado já há um tempo no Samba na Fonte, quando o movimento de compositores se reunia na Pedra do Sal, lá na Praça Mauá... o samba é Dona Sebastiana, composição de Marcelo Bizar e Orlando Professor: http://www.youtube.com/watch? v=QsPSbwOdTuI
PENSADORES: MARCELO BIZAR, seja bem-vindo a "Os Pensadores de Birosca" e desejamos sucesso em todos os seus empreendimentos artísticos.
MARCELO BIZAR: Eu que agradeço esse encontro. Espero que essa birosca esteja sempre aberta e cheia de pensadores.
PENSADORES: Muito obrigados, Marcelo, pela entrevista e apreço, e lhe desejamos muito sucesso em sua carreria artística.
Barão da Mata e Leônidas Falcão
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