segunda-feira, 29 de julho de 2013

OLHA, QUE GESTOR PÚBLICO TRABALHA, TRABALHA!

Uma vez, num engarrafamento, numa via de sinais não sincronizados,  eu e um outro passageiro de um ônibus reclamávamos de os sinais de trânsito não serem sincronizados, e, numa manifestação de revolta, comentei:
- Esses caras devem ter engenheiro de trânsito, mas como você vê, ele não trabalha.  Deve estar a esta hora com os cornos cheios de uísque e saindo da praia e já de mãos dadas com alguma mulher pra levar pro motel.  Como provavelmente foi indicado por ser parente ou amigo de alguém poderoso, deve passar os dias na praia.
E ainda concluí:
- A verdade é que gestor público não trabalha, senão não viveríamos neste verdadeiro caos.
Hoje, caindo em mim, vejo que de certo modo fui injusto: a grande realidade é que gestor público e político trabalham até demais!  E o seu tipo de trabalho é muito atrelado ao escalão e à função que cada um  tem no setor público.
Por exemplo, se for parlamentar ou detentor de qualquer cargo público eletivo, como governador, prefeito, vereador, presidente, deputado, senador, já no seu primeiro dia de mandato começa a campanha pela reeleição ou para galgar um mandato em posição mais alta, e é aquela coisa de fazer rapapés aos caciques políticos, dar entrevistas na televisão, produzir factóides, comparecer a programas de auditório liderados por apresentadores afinados com a politicagem brasileira e que gostam de trocar favores com o poder. O trabalho desses homens é tanto, que a administração, a legislação e os interesses da sociedade ficam relegados a oitavo plano, porque afinal de contas ninguém é de ferro, e  política é a arte de cuidar de interesses pessoais e  empurrar o resto com a barriga.
Já se o político for nomeado por alguém eleito pelo voto majoritário, aí tem de se esmerar em demasia no seu trabalho, porque, já que não foi eleito e pode cair a qualquer momento, bastando uma pequena crise de mau-humor do chefe, precisa se atirar a duas missões: tornar-se conhecido o bastante para concorrer nas  eleições seguintes ao cargo ou vaga em parlamento que lhe pareça mais à mão,  manter o emprego e o prestígio, o que requer caminhadas por áreas comerciais, pra comprar as mais finas gravatas pro chefe, além dos melhores uísques, os melhores vinhos, os ternos mais requintados.  E não fica só aí: sabendo que necessita de agradar, procura fazê-lo da forma mais plena, e o seu trabalho de campo inclui também conseguir para o "home" a prostituta classe A mais bonita e competente - ou prostituto, dependendo do gosto do mandachuva.  É um labor incessante, quase sem descanso, que quase não lhe deixa sobrar tempo para as surubas, rodas de bebedeiras e... não(!), drogas, não! Não creio que haja neste imenso Brasil de meu Deus um político ou gestor que faça uso de alguma droga ilícita. 
Já para ficar conhecido o bastante é só ficar convocando a imprensa o tempo todo, e esta vai dizer que o secretário não-sei-das-quantas disse isto, aquilo e aquilo outro, além de entrevistá-lo e manter a sua imagem sempre na mídia. Às vezes brande alguma bandeira de moralidade ou coisa parecida.  Neste trabalho, chorar é uma coisa que também dá muitos votos.   Debulhar-se em lágrimas bota o povo igual a manteiga derretida, e este chora junto com o cara, é uma verdadeira manteiga derretida.  Sabe como é: chorar e coçar, é só ver na mídia e copiar.  Sugeriria que as emissoras de tevê, em ocasiões  sentimentalóides, até tocassem tangos ao fundo dos discursos desses homens, pela dramaticidade do gênero argentino. 
Por falar em trabalhar, viram o recado deixado pelo papa aos clérigos, após dar-se da conta da perda de fiéis  - segundo este, pelo fato de um número respeitável de padres não ir "aonde o povo está(como dizem  Mílton e Brandt)" -  para os evangélicos?  Nas entrelinhas, ficou a mensagem: "Hay que trabajarse sin perder la fuerza jamás."
Assim sendo, nossos santos padres, a exemplo dos nossos santíssimos pastores, que passam os dias falando à exaustão, também terão de trabalhar mais.  Então eu pergunto: se até os nossos santos homens terão de suar a camisa, porque o nossos nobérrimos gestores não embarcam na onda e fazem algo de verdadeiramente produtivo para as populações?

Barão da Mata


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