Entre os maiores criadores de intrigas da História, sem dúvida quem ganha de longe o "Troféu Futrica" é o Caifás. Sentindo que as pregações de Jesus estavam tornando o rabino popular, temeroso de que o que o homem apregoava pela Galileia acabasse por colocar em xeque a credibilidade, o prestígio e o poder dos fariseus, seita da qual era, ele, Caifás, sumo sacerdote e por extensão presidente do Sinédrio... Por isso o líder religioso apressou-se em procurar Pôncio Pilatos, governador da Judeia ocupada por Roma.
Pilatos estava num momento de intimidade:praticava uma orgia em pleno salão de seu palácio, e tomou um susto quando o sacerdote surgiu de repente, sem se fazer anunciar.
-- Qual é, Caifás?! Como é que você entra assim de repente, sem tossir, sem pigarrear nem nada?! Quer participar , comunica antes...!
-- Não é nada disso - retrucou Caifás - Tenho um assunto muito sério pra tratar com você...
-- E interrompe minha orgia!? Só pra isso? Tu é muito cara-de-pau...!
-- Vai-se vestindo e dispensando a galera - o juiz era arrogante e autoritário - que o negócio é sério mesmo.
O governador não se conformava, voltava-se para as outras pessoas:
-- Vê se pode! Não é um abuso?! - e agora vira-se para Caifás: - Acontece que o governador aqui sou eu!
-- Que mané governador! - insistiu o religioso - Mando contar pro Titi que você não quer saber dos problemas do território ocupado, e ele manda te cortar a cabeça.
-- Titi?
-- É Pilatos! O Tibério! Tá bom assim?!
-- Mas que intimidade com o imperador...!?
--Ah, Pilatos! Deixa de "show"! Sabe que eu e o homem somos carne-e-unha. Agora manda esse pessoal todo embora.. Vai lá, vai,manda!
O governador sacudiu a cabeça com indignação, mas obedeceu, voltando-se para os outros:
-- Vão lá, vão, meninas e rapazes! Amanhã a gente continua. Não deixem de voltar, gosto muito de transar com vocês todos. Agora vão depressa, tá?
Quando o salão se evacuou, Pilatos dirigiu-se ao sacerdote:
-- Pronto, Caifás, desembucha logo!
O outro respondeu de pronto:
-- É esse tal de Jesus de Nazaré...
-- Ih, Caifás! Lá vem você com essa história de novo! Isso já é ideia fixa. Tem uns remédios que são bons pra isso, uns antidepressivos... ou então procura fazer terapia...
-- Terapia o quê, Pilatos! O cara vive dizendo que é rei de não sei qual reino, e as pregações dele podem ameaçar a credibilidade, o poder e o prestígio da gente... e até mesmo a nossa integridade física!
-- Viu como tu tá maluco!? -- discordava o governador -- Se é quem eu tô pensando, é um cara até muito do pacífico, dizem até que falou pra dar a César o que é de César... Não tá a fim de brigar com Roma...
-- Não importa, Pilatos, o que você pense! -- agastou-se Caifás -- O homem é um perigo, e o lugar dele é a cruz e ponto final!
-- Peraí, Caifás, o governador aqui sou eu...
-- Para com essa conversa fiada! Você é governador só até eu falar com o Titi... Vou te "detonar" pra ele, tu vai ser levado pra Roma de coleira no pescoço e corrente, vai ver só... Vai virar comida de leão! Comida de leão!
Foi por isso que Pilatos permitiu que o Sinédrio condenasse Jesus à morte.
Quando soube que o corpo havia sumido, o sumo sacerdote voltou ao palácio e deu um puta esporro em Pôncio:
-- Eu não te falei, porra(!), que tinha que mandar vigiar o corpo, pra evitar que sumissem com ele e dissessem que o homem ressuscitou!?
-- Mas eu mandei vigiar -- Pilatos respondeu meio cínico e desinteressado, sentindo-se vingado.
Caifás deixou o palácio batendo os pés com força no chão, enfurecido.
Ao vê-lo sair, Pilatos sorriu, chamou um soldado, perguntou-lhe:
-- Como é que foi mesmo esse negócio do sumiço do corpo?
O soldado baixou a cabeça, os gestos agitados, e explicou:
-- Aí, Excelência, o negócio é o seguinte: eu não gosto de mentira, não. A verdade é que a gente bebeu quando tava levando o corpo. A gente ia bebendo, e os seguidores dele, acompanhando a gente de longe, a gente bebendo e eles acompanhando.. Sacumé, né, meu governador!? A caminhada foi longa e teve uma hora que a gente emborcou, dormiu mesmo. Quando acordou, foi aquele desespero: um perguntando pro outro: "Cadê o corpo, malandro?! Cadê o corpo, malandro?! E agora, meus deuses?! Como é que vai ser?!"
-- Mas quem levou a bebida pra vocês? - tornou Pilatos.
-- Não sei, Excelência! Antes de a gente sair, tinha um monte de garrafas de vinho bem no meio do caminho. Alguém que não sei botou lá.
-- Está dispensado. Pode ir. - o governador despachou o homem.
Quando o soldado saiu, Pilatos manteve no rosto um sorriso malicioso e cínico.
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