João - Esse negócio de internet é mesmo uma maravilha, não é?
Barão - Tô de acordo. É uma bruxaria das boas. Se não fosse ela, a gente nem tava aqui divulgando a nossa conversa.
Célio - E a nossa conversa tem alguma coisa de proveitosa?
Raul - Ué? E não tem? A gente tá falando de tecnologia. E, falando em internet, ela serve até pra aproximar as pessoas...
Barão - É... Aproximar bastante. Minha filha mais nova contou, quando era adolescente, que o avô de uma colega dela de colégio foi flagrado por alguém na frente do computador, com as calças arriadas até os joelhos...
João - C...!! Até os joelhos?!
Raul - E o que foi que ele fez?
Barão - Sei lá. Deve ter bancado o doido.
Raul - Como assim?
Barão - Deve ter botado a mão na cabeça e perguntado: "Quem é você? Quem sou? Que que eu eu tô fazendo aqui? Não tinha uma privada bem aqui? Meu Deus, me interna que eu tô louco!"
João - Homem nu lembra p... e p... lembra Brasília... É de onde vêm as maiores p... que a gente leva. Mas, por falar em Brasília, e o mensalão?
Barão - É... tem gente sendo condenada...
João - Vem cá, me explica uma coisa: se o Lula não sabia de nada, e tudo acontecia debaixo das barbas dele, o cara deve ser distraído pra cacete, não é?
Barão - Não tinha condições de ser nem
office-boy, muito menos presidente da República.
Raul - Mas vamos falar do vovô da internet. Que idade ele tinha?
Barão - Não sei. Só sei o que me contaram; o desfecho eu só imaginei.
Célio - Porra, cara, a melhor coisa do mundo é tomar um chope bem gelado!
Raul - Ah, mulher não é, não?
Célio - Tá, o chope é a a segunda...
Barão - Mas tem que ter uma boa conversa. Falar de MPB, música em geral, de filmes, romances e romancistas e, principalmente, falar mal do governo.
Raul - Ó que delícia! Falar mal do governo é tudo de bom!
Célio - Governo só faz ...!
Barão - Eu acho que na verdade governo foi criado só pra sacanear o povo. Já diz o meu personagem, Jonas, o salafrário, que governar é muito erótico: consiste em fazer carinho, vaselinar a p... e botar tudo na b... do sujeito!
Raul, em tom de deboche - Puxa, Barão, como você é radical!
Célio, para Barão - Já que falou em cinema, você elogiou "Bruna Sufistinha", não foi?
Barão - Elogiei. Mas teve gente que não gostou. Quando eu elogiei, teve uma dona que achou surreal porque não mostrava a personagem levando porrada.
Raul - Mas e se ela nunca apanhou?
João - Pois é. Ela paga um boquete na p... suja do policial e nego ainda acha pouco...!
Barão - Puta que pariu! Pra você ver...
Célio - Poxa, gente, aqui tem palavrão demais, é melhor moderar...
Barão - Ah! Por falar nisso me lembrei de um episódio que me contaram sobre o Nélson Rodrigues...
João - Que episódio?
Barão - Não sei se é verdade, mas quando eu tinha uns dezoito anos um amigo do meu falecido pai - chamava-se até William - veio me contar que a crítica tachou ele de pornográfico, e aí o Nélson disse que então escreveria história infantil, e aí escreveu " O Coelhinho Pederasta".
Risos.
João - Não sacaneia! É verdade mesmo?
Barão - Não sei.
Célio - Esses críticos são uns caras bem sacanas, não é?
João - É, e nem sempre são honestos.
Raul - O Chico(Buarque) uma vez, nos anos oitenta, fez um apelo a eles em público, num programa jornalístico chamado "Noventa Minutos", com Paulo César Peréio e Ana Maria Nascimento e Silva. Ele pediu que fossem mais responsáveis, porque o artista tem um trabalhão de dias, meses, um tempão, pra produzir um show ou alguma coisa parecida, e vem o crítico em uma notinha de jornal e destrói tudo. Ele falou mesmo, textualmente, de crítica despreparada, irresponsável e até mesmo desonesta.
Barão - Vê se algum crítico cai de cacete nos bregas?
Célio - Claro que não! Eles vendem pra cacete!
Barão - Eu tive um vizinho que todo sábado me acordava tocando o Alexandre Pires fazendo amor com as outras pessoas (riso).
Raul - Aquilo é um pé nos culhões, não é?
Barão - De coturno!
Célio - Mas existiu mesmo esse programa: "Noventa Minutos"?
Barão -Eu confirmo! Existiu! Era um puta jornalismo da Band, na época chamada Bandeirantes.
Célio - E o Peréio?
Barão - Um gaiato! Mas sabendo perguntar. Tinha até roda de debates.
Raul - Entrevistaram o Jânio, o Brizola quando voltou do exílio.
Barão - Naquele tempo a ditadura militar tava sem respaldo popular, e programas como aquele, com entrevistados tão avessos ao regime, davam à gente a impressão de que o país mudaria radicalmente.
Célio - Mas não mudou?
Barão - Mudou a feição, Célio, mas não vejo avanços sociais significativos.... Ou melhor: nem vejo avanços sociais. Mas nem vou falar nisto, porque basta uma emissora dessas aí dizer que houve e passa a ser a verdade absoluta.
João - Acho que você tá é bêbado.
Barão - Ah! Bêbado! Isso me lembra uma história que o Sebastião Nery contou uma vez ao Jô Soares sobre o Jânio.
Célio - O Jânio?
Barão - Foi. Ele tinha voltado do exílio e tava na casa de um ex-desafeto, ou ainda desafeto, sei lá, e bebeu o tempo todo, e a comida não saía. Ele bebia, bebia, e a comida não saía. Até que, numa certa hora o tal inimigo ou sei lá o quê perguntou: "Jânio, você nos responde uma coisa?" "Respondo", o Jânio se prontificou. O cara perguntou: "Por que foi que você renunciou?"
Veio a turma do deixa-disso, apartando, dizendo "deixa pra lá", mas o Jânio não perdeu a pose: "Ele quer saber! Você quer saber? Então responder-te-ei. Responder-te-ei: É que lá no Alvorada a comida que serviam era uma merda igual à que servem na tua casa!" E retirou-se pisando nas tamancas, acompanhado por uma legião de puxa-sacos.
Risos.
João - Dizem que o Jânio bebia muito, e não caía.
Célio - É. Dizem que o homem era duro na queda.
Raul - O Vinicius(de Moraes) que uma vez caiu numa hora muito imprópria.
João - Como?
Raul - O Paulo Mendes Campos contou que ele foi convocado pelo Itamaraty ao enterro de um marinheiro, que não sei por que diabo teve que ser enterrado aqui no Brasil. Só que o Vinícius já tava meio triscado. O tempo tava chuvoso, o caixão baixou à cova, e o Vinícius foi jogar uma pá de cal no caixão. Caiu dentro da cova. Diz que foi uma agonia danada: o Vinícius aflito por estar ali, as pessoas puxando ele pelo braço, tentando tirar dali... foi uma gafe do cacete!
Risos.
Após o relato do episódio do Vinícius, pedimos a conta e fomos embora.