sexta-feira, 22 de maio de 2015

O BOTEQUIM DE ONTEM COM SUAS GAFES E PASSAGENS ANEDÓTICAS

Lá pelos meados dos anos 1980, costumávamos, eu, meu cunhado Minelli e meu irmão Carlos, beber algumas cervejas num botequim que ficava bem defronte a um açougue da Vila da Penha, onde, após degustar algumas, o marido de minha irmã sempre comprava algo como uma linguiça, moela ou coisa parecida.  
Numa ocasião, o Minelli, que na semana anterior perguntara ao açougueiro sobre testítulos de boi e obteve a promessa de que encontraria as gônadas naquele dia, percorreu com os olhos toda a vitrine e todo o panorama do açougue e, com uma certa veemência, perguntou ao comerciante:
- Cadê os culhões?
Não perdi a oportunidade de dar um risinho maldoso que contagiou todos os poucos presentes naquele momento.  Pela pouca intimidade que tinham entre si, o Minelli e o dono do negócio também riram, mas que ficaram constrangidos, ficaram.
Ainda pelos anos 1970, o Garrido, que bebia sempre com meu pai e meus irmãos (eu, quando participava, ficava sob os esporros do meu irmão mais velho, o Diógenes - mas bebia assim mesmo), inventou uma nova espécie de caipirinha. Mandava misturar gim com limão, bastante açúcar, colocar num pequeno cálice, deixar uma azeitona e uma rodela da fruta mergulhada e uma colher para ir desmanchando-a: deu a ela o nome de "cagalhufa".  Cagalhufa não sei por quê, mas que na época o nome pegou, pegou.
Acontece que este personagem uma vez queria beber, mas antes queixou-se pra o meu irmão Carlos  de que amanhecera com umas dores chatas num dos rins.  Convertido imediatamente numa espécie de médico leigo, prático em medicina ou sei lá o quê,  o Carlos receitou-lhe um remédio, e o adoentado foi direto à farmácia, comprou a medicação, usou-a, sentiu um magnífico alívio e fez o elogio:
- Puxa, Carlinhos, esse  remédio é bom mesmo...
Bebeu à vontade, saiu um momento para ir ao banheiro e, quando voltou, queixou-se:
- Carlinhos, que diabo de remédio é esse que você me ensinou?
- Por quê? - quis saber o Carlos.
- Fui mijar, já tinha um cara no mictório e, quando eu comecei, ele ficou olhando prá minha cara, porque o mijo saiu azul.
Numa outra oportunidade, estava eu, já com meus vinte e  poucos anos, entre meu pai e o Esteves, que era um tremendo gozador, e resovi contar um sonho esquisito que tivera com meu genitor.  Como naquele tempo tudo que era sonho  era motivo pra jogar no "bicho", comentei:
- Pai, tive esta noite um sonho que era pra dar  porco ou veado.
Quando o Esteves interveio:
- Então já sei! Sonhou com o Braga (meu pai)!
- E foi mesmo! - confirmei.
Ao que o Esteves, já soltando algumas gargalhadas, obervou:
- Não quero dizer com isto que teu pai seja porco, não, hem?
Esse mesmo Esteves, uns cinco anos antes, após um partida de futebol em que os frequentadores do boteco da Penha enfrentaram os funcionários da garagem da extinta CTC, estatal de transportes coletivos (Cia. de Transportes Coletivos) , fez outra das dele.
O time do boteco, composto por homens casados, maduros em sua maioria e em outra parcela não muito afinados com a bola, apanhou dos jovens, treinados e fortes funcionários da garagem, por 8 a 0.  O time era tão sem condições, que até pra mim teve vaga.  Lembro-me até de que vi a bola rasteirinha na meia-lua, à minha disposição.  Custei a acreditar e, quando me dei conta de que era minha, dei  o primeiro passo pra correr e chutá-la dentro do gol. Mas, numa fração de segundo antes de eu chegar, um brutamontes de seu metro e noventa e corpulento feito um leão-de-chácara, deu um pontapé na pelota e a fez sumir no mundo.  Chegasse eu um pouquinho antes e teria voado com ela e o meu corpo de 1,75 h e uns 62 kg na época.  Quando momentos depois olhei pra trás, vi meu pai, 1,67 m e uma muito bem arrredondada barriga, de boné,  defendo o nosso gol.  Não demorou muito e alguém chutou uma bola alta.  O goleiro (meu pai) apavorou-se com a bicha que achava que entraria acima de onde ele alcançaria e começou a sacudir os braços.  Acontece que ela passou por entre os seus braços. 
Terminada a partida, durante os comentários que são de praxe, meu pai se defendia pro Esteves:
- Olha, mas que eu agarrei bem, agarrei.
O Esteves  colocou um braço no ombro do meu pai:
- Braga... com todo o respeito que eu te devo... vai t... no c...
Não havia ali nenhum abuso ou desrespeito por parte do Esteves.  Era mera gozação mesmo.  Coisa de pessoas que tinham muita initimidade umas com as outras.  Jamais entre eles houvwe uma discussão feroz, como acontece em muitos episódios de que a gente vive tomando conhecimento.
Outra figura interessante era o seu Antônio da farmácia, apelidado pelos outros de Zé Porreta (também não sei o motivo).  Num Carnaval bem remoto, em que, como de praxe, as passistas do "Bafo da Onça" se preparavam para o desfile no bar embaixo do prédio onde eu morava (e sob a tanga usavam calcinha íntima mesmo!), o seu Antônio encantou-se tanto por uma delas, que fez-lhe um pedido:
- Deixa eu dar um beijinho no teu umbiguinho?
Cordial, a moça permitiu, e o Zé Porreta deu o beijo desejado.  Tudo teria sido magnífico se o namorado da mulher não houvesse chegado na hora e quase batido no farmacêutico.
Era uma turma que frequentava os bares, bebia sempre unida e era extremamente  divertida.  Eram uma síntese do que eram os bares cariocas naqueles tempos.
Tinha também o Cuca, que não fazia parte da turma mas era muito engraçado.  Mulherengo, conquistador, gostava de falar de seus feitos na cama com as mulheres para os seus interlocutores.  Certa noite, numa roda que comentava suas "bravuras" sexuais com fêmeas criativas e insaciáveis.
- Eutambém adoro fazer pederastia.
Não era eu "rouxa" para corrigi-lo naquele momento,  mas que ri bastnte por dentro, ri.
Meu pai, o Minelli, o Esteves, seu Antônio e meu irmão Diógenes morreram.  O Cuca e os que não mencionei não sei que fim levaram.  Só sei que tudo deixou um profundo sentimento de nostalgia.  Ficam em mim muita saudades daquelas pessoas e daqueles tempos.  Sei que a vida anda sempre para a frente e os tempos passados jamais voltam.  Mas que as saudades ficam, ficam, e são quase como feridas.

Barão da Mata

P.S.: Dentre os mortos destas histórias conto agora o meu irmão Carlos, por câncer, em 06 de julho de 2015.

13/07/2015

B.M.

Nenhum comentário:

Postar um comentário