domingo, 12 de maio de 2013

SALVE O DIA DAS MÃES

Dia das Mães.  Ah, Dias das Mães! Bonita data festiva, em que a família se reúne em torno da matriarca para homenageá-la e também para os familiares e parentes se confraternizarem.  Não tenho, mas reconheço o valor das mães.  Elas merecem todos os afagos e agrados.
Alguém aqui perto de casa até já soltou fogos, e eu levei um susto. Concordo que eu me dane porque não sou mãe, mas o sujeito  deve ter matado umas três velhinhas do coração. Fabricou um monte de órfãos como eu.  Mas deve ser alguém que não tem mãe.  A total deseducação desses sujeitos faz que eles festejem tudo fazendo muito barulho e  muitas vítimas de acidente. 
Mas esqueçamos os percalços, vamos aos festejos.   O churrasco, ah, o churrasco!  Carne boa, macia, frango, linguiça, cerveja, um regalo!  Roda a carne nos pratos , nas mãos, carne danada de boa, todo mundo bebendo que nem gambá, o pagode tocando alto de estourar os tímpanos, e a velhinha sentada numa cadeira no quintal, já esgotada à meia-noite, e nada de os filhos irem embora.  Isto depois de, em algumas casos, já haver rolado algum arranca-rabo: irmão que estranha irmão ou cunhado que estranha cunhado ou algo entre concunhados:
- Tá pensando que é mais home que eu?! Eu também sou "sujeito home".  Vem resolver aqui na mão, seu filho da puta!
Pronto! Mais uma anciã que quase morre e cuja pressão sobe e cujo coração dispara, e precisa tomar um beta-bloqueador e um ansiolítico.
Tem gente que não faz churrasco, mas leva a veneranda senhora ao restaurante.  Esta fica na dúvida sobre se está sendo homenageada ou torturada, porque fica mais de uma hora em pé  sob um sol desgraçado de quente, na fila quilométrica do lado de fora do restaurante, enquanto os filhos se encharcam de chope durante a espera.  Quando conseguem entrar, a anciã escolhe um lugar confortável e uma das filhas desce um esporro violento:
- Droga, mãe,  a senhora parece maluca! Sai do sol quente e senta direto bem na direção do ar-condicionado!?  Vem sentar neste lugar aqui. - e a coitada se muda, resignada, prá pior acomodação do restaurante.
Não podemos esquecer os presentes: o micro-ondas,  panelas, batedeira, agasalhos, chinelos, tudo que lembra bem lembrado o lado maçante do dia-a-dia, mas nada que alegre de verdade.
Não contei, porém, da zorra promovida pelos netos: aquela correria e gritaria de crianças, vez por outra os pirralhos saindo no sopapo, e e velhinha pondo a mão na cabeça: "meu Deus, é o próprio inferno..."
Quando acaba a reunião, por volta de uma e meia da manhã, a pobre idosa recebe beijos violentos dos filhos bêbados e dos netos encapetados, arrefecidos pelos ósculos cuidadosos e suaves das filhas.
Quando todos partem, a pobre matriarca, aliviada, murmura para si mesma: "Ainda bem que é só uma vez por ano."  Mas depois se vê aflita por  lembrar: "Não, meu Deus, são três vezes(!), porque ainda tem o Natal e o Ano Novo!"   
Que há muita gente grosseira e mal-educada, há, mas existe também uma quantidade considerável de pessoas que sabem se portar e festejar o  Dia das Mães com civilidade e polidez.  Que estes últimos tomem isto apenas como uma brincadeira e exercício de humor.  Que tenham todos um excelente Dia das Mães, com muita alegria e muita paz, e que suas mães tenham muita saúde e muitos anos de vida.

Barão da Mata

    

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