Não digo que há cada fica mais difícil fazer humor no Brasil, se a realidade é em muitas das vezes mais ridícula do que a piada que se cria? Sou obrigado a repetir mais uma vez o bordão do palhaço representado pelo Jô Soares: "Não dá pra competir."
O fato é que, no primeiro de maio, dando-me aos prazeres do ócio, peguei o controle da televisão e de repente deparei com uma moto seguida por um foco de luz na noite. Era o helicóptero do comandante Hamílton, que flagrara um homem em atitude suspeita e então o seguia. A narrativa era feita pelo Marcelo Resende, rouco e veemente, que imprimia um sensacionalismo sem medidas ao que por si só já era um grande alarde. Até aqui tudo bem. Mas o problema era que o helicóptero seguia e iluminava o sujeito, esperava-se que a qualquer momento um carro de polícia se pusesse no caminho do motociclista e lhe desse voz de prisão, e a gente ficou atento a cada detalhe do que passava na emissora. O homem ia com a moto a lugares escuros, o comandante Hamílton jogava o facho de luz sobre ele, e aquela corrida de gato e rato prosseguia.
Num dado momento o fugitivo trocou a moto por uma bicicleta, ligou para alguém do celular, abandonou a bicicleta num beco e um outro motociclista o colocou na garupa de uma diferente moto. Já iam por lá uns dez a quinze minutos. E lá foram os dois, facho de luz em cima, o Marcelo Resende fazendo o escândalo que lhe permitia a rouquidão, o público torcendo pela prisão dos suspeitos, até que a dupla sumiu por alguns segundos e, como num passe de mágica, o condutor da segunda moto apareceu sozinho, sozinho, e logo depois também sumiu na escuridão. Aí a polícia de São Paulo, por não ter surgido de lugar nenhum nem visto nada do que o Brasil inteiro vira, envergonhou o cidadão paulista, dando um memorável vexame público diante de milhões de espectadores.
Não havia comunicação entre Rede TV, comandante Hamílton e a polícia? Então tudo o que vimos era usado como mero espetáculo em busca de audiência? Estaria a polícia na hora da sesta? Ou será que a Secretaria de Segurança Pública encerra o expediente de todas as forças policiais rigorosamente às dezoito horas? Não sei o motivo, mas que foi uma mancada inesquecível, foi. O cidadão paulista, assim como o do Rio, tem muito que cobrar das suas autoridades encarregadas da segurança pública.
Barão da Mata
Nenhum comentário:
Postar um comentário