Calores de quarenta e cinco graus e sensação térmica de cinquenta, tempestades, raios, inundações, estupro à natureza e contrabando de madeira e animais silvestres, roubalheira de dinheiro público, impunidade, políticos crapulosos, carência de saúde, de educação, de segurança, de habitação, cracolândias por toda parte, violenta falta de educação no trânsito, desemprego, baixos salários... Ainda bem que o Brasil é um país abençoado por Deus.Não quero imaginar como seria se não fosse.
Barão da Mata
terça-feira, 26 de fevereiro de 2013
segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013
VERSÃO BRASILEIRA... 3
ACABOU CHORARE
Em 1972, os Novos Baianos conceberam "Acabou Chorare", um marco na história da indústria fonográfica. O álbum alcançou sucesso estrondoso na época de seu lançamento e permanece até hoje, mais de 40 anos depois, como um dos mais importantes e influentes registros musicais da música popular brasileira.
Dentre os grandes sucessos que recheiam o disco (Preta, Pretinha, A Menina Dança, Brasil, Pandeiro, dentre outros) se esconde a faixa título. Acabou Chorare é uma canção diferente, que explode baixinho, totalmente influenciada pela discrição vocal de João Gilberto (um dos mentores de todo o o álbum), quase como um lamento, soprado em meio à batida meio bossanova, que ganhou um leve gingado, ainda mais baiano do que o próprio João Gilberto.
Esta música ilustra bem a toda a versatilidade impressa na música dos Novos Baianos. Ela não traz as guitarras de Pepeu Gomes, ao estilo Jimi Hendrix, nem o inconfundível timbre feminino de Baby Consuelo. Mas ainda assim é uma canção surpreendente, digna de figurar, e porque não dar nome a este álbum genial.
Trazemos aqui, duas versões. A original, com os Novos baianos e outra, por Arnaldo Antunes. Mas, por favor, dê um jeito de escutar o disco inteiro.
Leônidas Falcão
Leônidas Falcão
domingo, 24 de fevereiro de 2013
HERCULANO ÉBRIO E AS ELEIÇÕES PRA PRESIDENTE
Um dia desses encontramos o Herculano Ébrio num desses bares da vida, e lia ele o destaque de um jornal que dizia que o Lula já lançara a candidatura da Dilma à reeleição e o Aécio já começava a trocar farpas com eles. Vendo o interesse do nosso homem pelas eleições, ficamos curiosos sobre em quem votara no passado:
- Herculano, em quem você votou em 2006 pra presidente:?
Nosso amigo levou a mão ao peito, num gesto de bebum, e respondeu com a voz já embolada da embriaguez:
- Olha, eu confesso a vocês que, depois de mensalão e tudo, eu votei no Lula.
- No Lula??
Ele deu de ombros:
- Pois é, eu tava bêbado...
- Por que não no Serra? - perguntamos.
- Eu disse bêbado, não desmemoriado. Acaso vocês não ouviram falar da política recessiva do FH, que o Serra sempre defendeu?
Concordamos, sobretudo porque também não votamos nem votaríamos no Serra pelos motivos colocados pelo nossos amigo.
- E em 2010? Votou em quem?
- Na Dilma.
- Na Dilma??
- Pois é. Na Dilma. Sabe como é... eu vivo bêbado.
- E agora, Herculano? Vai repetir o voto na Dilma?
- Eu disse que sou bêbado, não burro...! - e respondeu num tom meio de discurso.
- Ah! Então vai votar no Aécio!
- Olha, eu disse bêbado, não desinformado.- agora ele falou com indignação.
Consideramos sobre as eternas mancadas que o eleitorado brasileiro vem cometendo, e aí o nosso amigo levantou um braço e disse antes de deixar a cabeça cair sobre a mesa:
- Ah(!), vocês não perceberam?? Aqui no Brasil a galera só vota bêbada!
Barão da Mata e Leônidas Falcão
sábado, 23 de fevereiro de 2013
SOBRE SER UM BRAGA
Durante muito tempo os homens de minha família tiveram fama ( e orgulho) de serem vistos como mulherengos. Mas ninguém dizia se as mulheres eram ou não "homemengas", talvez porque, como disse uma vez o Chico Anysio, todo pai se orgulha dos filhos fogosos: "Meu filho come essa, come aquela", mas nenhum deles tem a honestidade de dizer:"Minha filha dá pra todo mundo, é a alegria da rua."
Mas o fato é que um meu sobrinho, por volta de 2008, criou no Orkut uma comunidade chamada "Eu Sou Um Braga", e eu tracei o perfil dos homens da família com um texto mais ou menos assim:
Tá pensando o quê, ó cara! Braga que é Braga tem que ser MAAACHO! Dar com os colhões na ponta da mesa e nem gemer: ainda sorrir de leve. Braga que é Braga já nasce passando a mão na bunda da enfermeira. E tem mais: ainda enche de porradas o engraçadinho do médico que lhe dá aquela palmadinha quando do seu nascimento.
E outra coisa: não vem, não, com esse negócio de que não se deve cobiçar a mulher do próximo, porque a Palavra é bem clara: "a mulher do próximo"! Do próximo! Não a mulher do distante. Ou seja, se o marido vai à esquina ou dá bobeira, é obrigação de um Braga passar uma bela cantada na moça. e ai dele se receber um não! Tem que se punir partindo prá autoflagelação: assistir ao programa inteirinho do Faustão. E mais uma: todo Braga tem o direito de pegar a mulher de quem bem entender, porque não tem culpa de ser casada a mulher por quem venha a se interessar no futuro. E não fica só nisso: Braga que só tem uma mulher é considerado bundão e, como já disse um sobrinho meu, Braga do Paraguai.
E o principal: todo Braga que se preza faz um risquinho no guarda-roupas cada vez em que pega uma mulher; e é obrigado a trocá-lo todo santo ano por não ter mais espaço pra riscar. Sem contar que mulher de Braga não sai de casa, não vê televisão, não ouve rádio e ainda usa burca, pra não ser contaminada por essa liberalidade dessas mulheres por aí. Dedica-se unicamente e absolutamente ao marido, que fica chateado mas nada pode fazer se a instalação elétrica ou hidráulica vive dando defeito e, na urgência e falta de um bom profissional, sempre encontra o mesmo vizinho consertando o chuveiro ou mexendo no interruptor do quarto do casal. Ruim é que esses tais vizinhos sobem na cama pra trocar a lâmpada e a deixam toda desarrumada.
É isso aí, bragada! O lema dos Braga é como o lema de um escoteiro: sempre alerta e de olho na bunda da mulher alheia!
Barão da Mata
ASSÉDIO NO SOFÁ
- Sua mãe já deu boa-noite. Agora só estamos nós dois aqui no sofá...
- É, mas fica pra lá, não e não se aproxima.
- Você não vai me dar nem um beijinho?
- Nem na testa!
- Mas por que não...?
- Não finja que não entende as coisas. Deixei bem claro que a gente não se namora mais, nossa relação é de pura amizade, nada mais.
- Não seja cruel...
- Não é crueldade. É uma questão de respeito às coisas que nós próprios estabelecemos.
- Você não relaxa...
- Relaxo, sim, só não deixo de cumprir as coisas que combino.
- Mas...
- Mas nada! Eu tenho palavra. Pensei que você também tivesse.
- Não é isso, é que eu me deu uma vontade...
- Guarde seus ímpetos pra lá. Nós combinamos e assim vai ser: amigos, amigos!
- Mas você nem pode ceder de vez em quando, deixar rolar...
- Nunca! Repito: amigos, amigos!
- Você é muito difícil.
- Não sou eu que sou difícil. você é que não tem palavra. Mas eu tenho.
- Você assim me ofende...
- E quantas vezes você já me ofendeu?
- E aí você guardou rancor.
- Tanto não guardei, que mantivemos a amizade depois de romper o relacionamento.
- Ah, deixa de ser racional e me dá um beijinho, um beijinho só...!
- Me larga! Me larga!! Senão eu grito, eu faço um escândalo!
- Você me empurrou, machucou minha boca.
- Ninguém mandou você querer me forçar.
- Sabe de uma coisa? Acho que não tô agradando...
- E hoje não tá mesmo.
- Vou embora.
- Pode ir.
- Posso voltar amanhã.
- Se quiser, pode.
- Eu quero.
- Tá bom. Então, até amanhã, Tiago.
- Tá legal. Até amanhã, Maurício.
Barão da Mata
- É, mas fica pra lá, não e não se aproxima.
- Você não vai me dar nem um beijinho?
- Nem na testa!
- Mas por que não...?
- Não finja que não entende as coisas. Deixei bem claro que a gente não se namora mais, nossa relação é de pura amizade, nada mais.
- Não seja cruel...
- Não é crueldade. É uma questão de respeito às coisas que nós próprios estabelecemos.
- Você não relaxa...
- Relaxo, sim, só não deixo de cumprir as coisas que combino.
- Mas...
- Mas nada! Eu tenho palavra. Pensei que você também tivesse.
- Não é isso, é que eu me deu uma vontade...
- Guarde seus ímpetos pra lá. Nós combinamos e assim vai ser: amigos, amigos!
- Mas você nem pode ceder de vez em quando, deixar rolar...
- Nunca! Repito: amigos, amigos!
- Você é muito difícil.
- Não sou eu que sou difícil. você é que não tem palavra. Mas eu tenho.
- Você assim me ofende...
- E quantas vezes você já me ofendeu?
- E aí você guardou rancor.
- Tanto não guardei, que mantivemos a amizade depois de romper o relacionamento.
- Ah, deixa de ser racional e me dá um beijinho, um beijinho só...!
- Me larga! Me larga!! Senão eu grito, eu faço um escândalo!
- Você me empurrou, machucou minha boca.
- Ninguém mandou você querer me forçar.
- Sabe de uma coisa? Acho que não tô agradando...
- E hoje não tá mesmo.
- Vou embora.
- Pode ir.
- Posso voltar amanhã.
- Se quiser, pode.
- Eu quero.
- Tá bom. Então, até amanhã, Tiago.
- Tá legal. Até amanhã, Maurício.
Barão da Mata
sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013
HERCULANO ÉBRIO, O BÊBADO
Este é Herculano Ébrio, O Bêbado, personagem de Os Pensadores de Birosca, criado por Leônidas Falcão e Barão da Mata, perfeitamente enquadrado ao perfil do grupo.
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013
CAIFÁS FOI O MAIOR FOFOQUEIRO DA HISTÓRIA
Entre os maiores criadores de intrigas da História, sem dúvida quem ganha de longe o "Troféu Futrica" é o Caifás. Sentindo que as pregações de Jesus estavam tornando o rabino popular, temeroso de que o que o homem apregoava pela Galileia acabasse por colocar em xeque a credibilidade, o prestígio e o poder dos fariseus, seita da qual era, ele, Caifás, sumo sacerdote e por extensão presidente do Sinédrio... Por isso o líder religioso apressou-se em procurar Pôncio Pilatos, governador da Judeia ocupada por Roma.
Pilatos estava num momento de intimidade:praticava uma orgia em pleno salão de seu palácio, e tomou um susto quando o sacerdote surgiu de repente, sem se fazer anunciar.
-- Qual é, Caifás?! Como é que você entra assim de repente, sem tossir, sem pigarrear nem nada?! Quer participar , comunica antes...!
-- Não é nada disso - retrucou Caifás - Tenho um assunto muito sério pra tratar com você...
-- E interrompe minha orgia!? Só pra isso? Tu é muito cara-de-pau...!
-- Vai-se vestindo e dispensando a galera - o juiz era arrogante e autoritário - que o negócio é sério mesmo.
O governador não se conformava, voltava-se para as outras pessoas:
-- Vê se pode! Não é um abuso?! - e agora vira-se para Caifás: - Acontece que o governador aqui sou eu!
-- Que mané governador! - insistiu o religioso - Mando contar pro Titi que você não quer saber dos problemas do território ocupado, e ele manda te cortar a cabeça.
-- Titi?
-- É Pilatos! O Tibério! Tá bom assim?!
-- Mas que intimidade com o imperador...!?
--Ah, Pilatos! Deixa de "show"! Sabe que eu e o homem somos carne-e-unha. Agora manda esse pessoal todo embora.. Vai lá, vai,manda!
O governador sacudiu a cabeça com indignação, mas obedeceu, voltando-se para os outros:
-- Vão lá, vão, meninas e rapazes! Amanhã a gente continua. Não deixem de voltar, gosto muito de transar com vocês todos. Agora vão depressa, tá?
Quando o salão se evacuou, Pilatos dirigiu-se ao sacerdote:
-- Pronto, Caifás, desembucha logo!
O outro respondeu de pronto:
-- É esse tal de Jesus de Nazaré...
-- Ih, Caifás! Lá vem você com essa história de novo! Isso já é ideia fixa. Tem uns remédios que são bons pra isso, uns antidepressivos... ou então procura fazer terapia...
-- Terapia o quê, Pilatos! O cara vive dizendo que é rei de não sei qual reino, e as pregações dele podem ameaçar a credibilidade, o poder e o prestígio da gente... e até mesmo a nossa integridade física!
-- Viu como tu tá maluco!? -- discordava o governador -- Se é quem eu tô pensando, é um cara até muito do pacífico, dizem até que falou pra dar a César o que é de César... Não tá a fim de brigar com Roma...
-- Não importa, Pilatos, o que você pense! -- agastou-se Caifás -- O homem é um perigo, e o lugar dele é a cruz e ponto final!
-- Peraí, Caifás, o governador aqui sou eu...
-- Para com essa conversa fiada! Você é governador só até eu falar com o Titi... Vou te "detonar" pra ele, tu vai ser levado pra Roma de coleira no pescoço e corrente, vai ver só... Vai virar comida de leão! Comida de leão!
Foi por isso que Pilatos permitiu que o Sinédrio condenasse Jesus à morte.
Quando soube que o corpo havia sumido, o sumo sacerdote voltou ao palácio e deu um puta esporro em Pôncio:
-- Eu não te falei, porra(!), que tinha que mandar vigiar o corpo, pra evitar que sumissem com ele e dissessem que o homem ressuscitou!?
-- Mas eu mandei vigiar -- Pilatos respondeu meio cínico e desinteressado, sentindo-se vingado.
Caifás deixou o palácio batendo os pés com força no chão, enfurecido.
Ao vê-lo sair, Pilatos sorriu, chamou um soldado, perguntou-lhe:
-- Como é que foi mesmo esse negócio do sumiço do corpo?
O soldado baixou a cabeça, os gestos agitados, e explicou:
-- Aí, Excelência, o negócio é o seguinte: eu não gosto de mentira, não. A verdade é que a gente bebeu quando tava levando o corpo. A gente ia bebendo, e os seguidores dele, acompanhando a gente de longe, a gente bebendo e eles acompanhando.. Sacumé, né, meu governador!? A caminhada foi longa e teve uma hora que a gente emborcou, dormiu mesmo. Quando acordou, foi aquele desespero: um perguntando pro outro: "Cadê o corpo, malandro?! Cadê o corpo, malandro?! E agora, meus deuses?! Como é que vai ser?!"
-- Mas quem levou a bebida pra vocês? - tornou Pilatos.
-- Não sei, Excelência! Antes de a gente sair, tinha um monte de garrafas de vinho bem no meio do caminho. Alguém que não sei botou lá.
-- Está dispensado. Pode ir. - o governador despachou o homem.
Quando o soldado saiu, Pilatos manteve no rosto um sorriso malicioso e cínico.
terça-feira, 19 de fevereiro de 2013
ENTRE O PASTOR E O PAI-DE-SANTO
Tava numa maré de azar danada. Tudo dava errado! Tudo dava errado! Pra você ter ideia, num dia chuvoso avistei uma moedinha de cinquenta centavos meio de longe, sorri, me agachei para pegá-la e um ônibus meteu a roda numa poça d'água e me deu um banho. A camisa, branquinha, branquinha, ficou imprestável. Tive um prejuízo de mais de vinte paus.
Foi aí que resolvi deixar de ser racional e entrei numa igreja dessas em que o pastor fala alto à beça ao microfone e toda hora pede doações. Como estava na primeira fila e ele olhava pra mim, depositei ali na sacolinha um real. O homem me olhou de ladinho e começou a vociferar:
- Aquele que doa pouco não mostra fé verdadeira em Deus! Mais que isso, tenta enganar a Deus,e é punido com o fogo do Inferno!
Sentindo que falava pra mim, levantei-me e entrei no meio de outros doadores e dei mais dois reais. Mas o danado percebeu e bradou:
- As pessoas não entendem que com Deus não se brinca! Certas coisas são humilhação ao Senhor!
Misturei-me a uns outros crentes que estavam também de pé e saí de fininho. Ganhei a rua e fiquei pensando comigo:
- Fogo do Inferno... Poxa...! E eu não aguento nem calor de trinta e três graus. O que faço de minha vida...? O que faço de minha alma...?
E andando com esses pensamentos deparei com uma casa modesta que tinha uma placa na porta: "Desfaço trabalho, trago seu amor de volta, dou prosperidade." Era tudo o que eu queria: prosperidade, nenhum amor de volta, mas quem sabe um novo amor? Quem sabe ainda a salvação da própria alma?
Foi pensando assim que entrei, esperei uns quinze minutos e um pai-de-santo me atendeu:
- Muzifio tá cum zica braba, precebi quando zoiei. Vô tirá tudo de uma vez!
- Opa! - pensei comigo - Vou sair daqui com todos os meus problemas resolvidos.
Tomei um passe dos bons, desfiei um rosário de lamúrias pro homem, fiz um pouco de manha (quem não chora, não mama, não é?) e ouvi o diagnóstico:
- Mandinga feia feita pro fio. Coisa botada em cemitério, prás alma pior das alma.
Perguntei de imediato, sem conter a ansiedade:
- E pai tira de mim, tira?
- Pai tira. - ele respondeu de pronto - É só comprá sete vela vremeia e preta, dez ramo de vence-demanda, três foia de tinhorão-brabo, trazer três galinha preta pra abatê e deixá duzento real pro santo.
Matar animais!!!??? Duzentos reais!!!??? O que queria aquele sujeito?Que eu fosse contra meus sentimentos e princípios e virasse assassino de galinhas?! E ainda morresse numa grana daquelas!?
Levantei, dei nele aquele abraço de preto-velho e saí rapidamente prometendo voltar no dia seguinte. Quando tava no portão, o cara cuidou logo de me avisar:
- Se não voltá encosto não sai do costado, num abandona muzifio nunca mais.
O que fui arranjar pra mim?! Dar uma grana alta à igreja ou viver eternamente no Inferno, matar animais e dar uma nota de respeito ao pai-de-santo ou ficar com o encosto a vida inteira nas minhas costas. Nas minhas costas???!! E quando eu fosse sentar? Ia ficar no colo do encosto?! Não sou disso! Coisa mais feia!! E quando fosse transar? Ah, é?! O engraçadinho do encosto ia ficar agarrado às minhas costas...Mas que coisa mais trágica! O que é que ele ia ficar fazendo comigo? Xi! Não quero nem pensar! Imagine também: já ouvi que o encosto faz tudo o que a gente faz através da gente: então ele também ia transar com a mulher que transasse comigo. Tem graça a gente dividir a mulher com os outros? Puxa! E eu só dividi mulher sem saber: nunca aconteceu voluntariamente. E quando eu fosse beber, o egun ia beber a maior parte, tomar um porre daqueles às minhas custas e ainda zumbizar no meu ouvido pra eu arranjar confusão com os outros na rua, e eu que ia tomar as porradas enquanto ele ia ficar rindo gostosamente de mim. Ah, não, não era possível! Não podia aceitar tudo aquilo!
Foi por isso que voltei à igreja, aproveitei que não havia plateia e o pastor tava sozinho, me aproximei dele e perguntei:
- Quanto os Senhores acham que eu devo doar?
- Os senhores? - ele mostrou estranheza.
- É que eu falo em nome do Senhor Deus e do senhor pastor.
- Hmm! - ele fez com a cabeça que entendera, pensou um pouco e sentenciou: - Uns duzentos reais.
Fiquei numa sinuca-de-bico. Pensei, pensei, pensei até me dar conta de que ao menos não iria pro Inferno. Mas quis me certificar de outros detalhes:
- Mas se tiver algum espírito mau me atrapalhando, os Senhores também tiram, não?
- Claro, meu filho!
Calei por um tempo, um tanto acabrunhado, até que falei:
- E os Senhores aceitam parcelamento?
- Hmmmmm...! - ficou a matutar o santo homem... e pensou e pensou... até que fez uma contraproposta: - O filho vai depositar vinte reais por mês, por toda a vida, na conta da igreja, e eu vou lhe passar o número...
Aceitei, mas não perdi a oportunidade de fazer mais uma pergunta:
- E isso vai me trazer prosperidade?
- Claro, meu filho - ele me assegurou com sua calma constante, bem diferente de toda aquela ebulição que mostrava diante da platéia.
Peguei a número da conta e passei a depositar. Regularmente. Sem atrasar um dia.
Devo dizer que já faz doze anos e doze meses que deposito na conta da igreja, e não obtive graça nenhuma, não prosperei e as aporrinhações continuaram. Mas pelo menos me salvei de ir pro Inferno.
Barão da Mata
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013
FELIZ DIA DO REPORTER !
Por isso, vamos recordar e homenagear você...
O repórter bonzinho, que dá dica:
Ainda bem que não é o dia do político!
FELIZ DIA DO REPÓRTER! 3
Por isso vamos recordar e homenagear você...
Repórter que cobre conflitos muito muito muito violentos!
É licença poética.
É licença poética.
FELIZ DIA DO REPÓRTER! 4
No dia 31 de dezembro de 1968, foi ao ar o último programa "O Repórter Esso", transmitido aquela altura, pela Rádio Nacional e pela Rádio Globo. Tamanha a sua identificação com o povo brasileiro que há tempos passara a ser conhecido e apresentado como "O Seu Repórter Esso". O fato é tão marcante na história do rádio e da imprensa brasileira que tornou-se tema de um livro escrito pelo Jornalista Jota Alcides, "O Último Repórter Esso".
Ao fim do derradeiro programa, o apresentador Roberto Figueiredo passa a destacar as principais notícias dadas pelo Repórter Esso em toda a sua existência. Como se montado numa máquina do tempo e vendo correr em 01 minuto os 27 anos de atividade do programa, Roberto Figueiredo não se segura e começa a chorar, chegando a um ponto em que o locutor reserva Plácido Ribeiro, que estava no estúdio na hora do noticiário, segue com a leitura. Roberto tenta se recompor e, aos prantos, encerra o último Repórter Esso, desejando uma boa noite e um feliz ano novo.
Gostaria muito de escrever uma crônica, a mais bela crônica, tamanho impacto que sofri ao assistir ao vídeo abaixo. Mas não pude prosseguir, por simplesmente ser incapaz de descrever a saudade que sinto de um tempo que não vivi.
Leônidas Falcão
sábado, 9 de fevereiro de 2013
FOLIÃO DE ARAQUE
Muito embora tenha escrito, em 1981,
O FOLIÃO
Não venha falar de vida, morte ou sorte
Nem da minha estrada com os seus espinhos,
Pois o que eu quero é me perder por entre cores,
Plumas, flores, brilhos, danças, tangas, brigas,
É me derramar
Pelo Carnaval.
Não venha falar das horas que eu já passo
No trabalho e dos momentos mais suados que virão,
Pois o que eu mesmo quero
É entrar no tumulto
Tal qual quem mergulha
Nas nuvens e voa.
Quero é me embriagar por entre penas,
Cores, danças, marchas, brilhos, sambas, luzes,
Ser onipresente
Neste Carnaval.
Quero é me espalhar por todo canto
Feito bomba que estilhaça e que cada pedaço
Seja vivo e reluzente como as cores deste dia.
Quero estar alheio a todo drama,
Fome, tiro, preço, "papo", acordo, míssil;
Só sei que nós, homens,
Somos ante Deus
Todos foliões.
Barão da Mata
O FOLIÃO
Não venha falar de vida, morte ou sorte
Nem da minha estrada com os seus espinhos,
Pois o que eu quero é me perder por entre cores,
Plumas, flores, brilhos, danças, tangas, brigas,
É me derramar
Pelo Carnaval.
Não venha falar das horas que eu já passo
No trabalho e dos momentos mais suados que virão,
Pois o que eu mesmo quero
É entrar no tumulto
Tal qual quem mergulha
Nas nuvens e voa.
Quero é me embriagar por entre penas,
Cores, danças, marchas, brilhos, sambas, luzes,
Ser onipresente
Neste Carnaval.
Quero é me espalhar por todo canto
Feito bomba que estilhaça e que cada pedaço
Seja vivo e reluzente como as cores deste dia.
Quero estar alheio a todo drama,
Fome, tiro, preço, "papo", acordo, míssil;
Só sei que nós, homens,
Somos ante Deus
Todos foliões.
Não sou chegado ao Carnaval e, na juventude, poucas vezes participei da festa. Só quis mesmo descrever o espírito dos apaixonados pela folia.
Naquele tempo a imprensa falava muito na possibilidade de uma conciliação entre Estados Unidos e a extinta União Soviética para o fim da guerra fria, além de veicular, como hoje, muitas matérias acerca de guerras, inflação, segurança, criminalidade, e na última estrofe o personagem opta por ignorar tudo e cair na fuzaca.
Barão da Mata
POR QUE PENSADORES DE BIROSCA
Falei com Leônidas, meu sobrinho, sobre criarmos um blog dentro de um perfil bastante descontraído, com estilo bem solto e livre, ora humorístico ou austero quando precisasse, diverso, com uma face bem carioca e irreverente e sarcástica, mas que não desse as costas às questões que envolvem a sociedade brasileira e o mundo. Seria um espaço onde exporíamos muito os nossos pensamentos, e isto já dava motivo a que déssemos ao espaço o nome de "pensadores". Mas não tínhamos a pretensão de sermos donos da verdade ou filósofos de verdade, o que, somado à postura de descontração, abriu caminho para que nos tornássemos "filósofos de botequim", o que já é uma ironia a quem porventura nos quisesse fazer qualquer crítica. Porque o filósofo de botequim se dá e tem todo o direito de falar besteiras, mas o nome está mais do que explorado. Passamos mais de dois meses tentando achar um nome para adotarmos, e finalmente chegamos a "Os Pensadores de Birosca". Vê? Até pra escolher o nome pro blog foi preciso queimar as pestanas de tanto pensar.
Barão da Mata
O BOTEQUIM ONTEM E HOJE
Caçula de uma família de oito filhos, quando eu tinha quinze anos, morava num apartamento que ficava em cima de um botequim do bairro da Penha, no Rio, que era frequentado por meu pai e dois de meu irmãos, O bar tinha inúmeros outros frequentadores assíduos, e eu descia à noite para ouvir as conversas dos homens jovens e maduros, recheadas de acontecimentos, "causos", histórias pitorescas, inúmeros relatos sobre aventuras sexuais, curiosidades de impressionar qualquer adolescente que, como eu, estivesse a descobrir o mundo.
Carlos, o mais novo de meus irmãos, mulherengo desde os quatorze anos e engajado na Marinha de Guerra, e meu pai, civil e marítimo de bons anos de viagens, tinham uma enorme bagagem de narrativas eróticas interessantes. Havia ali os que gostavam de futebol e muitas discussões sobre o tema, algumas calorosas e exaltadas.
Era um boteco com variedade de assuntos: não limitados aos casos de lascívia, meu pai e meu irmão mais velho, ambos chamados Diógenes, colocavam muito em pauta a questão política, e os outros interlocutores, sempre em torno de dois a cinco, expunham cada qual seu ponto de vista, e aqueles debates, embora eu fosse absolutamentealienado, me chamavam tanto a atenção quanto os relatos obscenos.
Havia realmente uma riqueza de assuntos nos botequins naquela época, e o interesse das pessoas era talvez despertado pelo fato de o Brasil estar em plena ditadura militar, sem poder dizer nada, ali pelos idos de 1973. Mas as conversas também passavam pelo mundo artístico e outras questões do momento. Um dia um homem em outra mesa falava sobre Rasputin, e o português do boteco riu e zombou daquele murmurando que discutia religião logo naquele ambiente. Também ri, porque não sabia das ligações do citado monge com Catarina de Médicis, acreditando que o achincalhado realmente falava em religião.
Era grande a diversidade de temas dentro de um botequim: falavam em história, filosofia, zoologia, outras ciências, criminalidade, ações do governo e tentavam adivinhar o futuro que teria o Brasil. Alguns atacavam veemente a ditadura, e meu pai, socialismo e simpatizante do comunismo e despido de medo do risco de ser preso, torturado e morto com a pecha de subversivo(em virtude talvez da revolta e da cerveja bebida), era um destes raros. Outras vozes, por outro lado, também se levantavam, mas em direção contrária: defendiam com ardor os militares e a repressão.
Só aos vinte e quatro anos me politizei, quando meu irmão mais velho já morrera de câncer, e o meu pai, de acidente de trânsito. Embarquei ali na esquerda (hoje não acredito mais em esquerda nenhuma), não influenciado pelo meu genitor, mas pelo grupo de conhecidos que frequentava, todos da minha idade e com grande interesse por MPB, história e coisas de teor social e político. Mas isto já se deu após a abertura iniciada no governo Geisel, e tudo já se podia falar; aí a gente marretava mesmo os homens! Não tínhamos o menor respeito ao governo dos militares e líamos avidamente os jornais da imprensa alternativa. Uma parte do meu grupo não bebia, mas a que bebia levava aquilo tudo para os bares.
Casei-me pela primeira vez e me afastei um longo tempo dos botequins. Perdi o contato com os antigos convivas. Com cinco anos de casado caí na gandaia e comecei a beber no centro da cidade, e minhas conversas passavam pelos caminhos que aqui menciono. Aos quarenta anos me meti em outro casamento e fiquei mais dois anos afastado dos bares, só bebendo em residências e indo poucas vezes aos botecos, onde comecei a notar um empobrecimento de idéias. Havia muita alienação e incultura nos anos 1970 e 1980, mas a partir da década de 1990 a coisa piorou muito: a ignorância imperou, tomou corpo e achatou as idéias, e hoje bebo com raras pessoas, justamente aquelas que têm assuntos com conteúdo, porque entendo que a bodega é, além de um lugar de pura descontração, onde também deveria haver uma riqueza temática como a que encontrei entre 1973 e 1992 ou 93.
A grande verdade é que o botequim é uma síntese, um grande medidor do que as pessoas e a sociedade vivem, sofrem, pensam e respiram. Percebendo isto, em 1980 escrevi "Mesa de Botequim", finalizando o poema com a estrofe "mesa de botequim, tu és o mundo". Fico triste em deduzir que, ao menos dentro dos bares, a consciência simplesmente se calou ou, o que é pior, se suprimiu, sofrendo os reflexos do deprimente declínio cultural por que vem passando o Brasil.
Barão da Mata
quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013
MESA DE BOTEQUIM
Mesa de botequim, tu és muito mais ampla
Do que as dimensões em que te veem nossos olhos,
Porque comportas alegrias, ideais, tristezas
E as mais baratas e as mais fundas filosofias.
Mesa de botequim, tu és infinita.
Acolhes a dor mais profunda,
O desespero mais latejante
E a inquietude cansada dos vencidos,
Sendo a confidente dessas coisas todas
Que o peito da gente bem sabe sufocar.
Suportas, impassível, compreensiva,
O murro inflamado de veemência
Dos mais ardorosos convictos
E ainda vês as imagens dos devaneios
Dos que alimentam seus ideais.
És inteirada, bem-informada,
Sabes da política, do futebol,
Da fome, da história, da violência...
Sabes de tudo, de todos, dos meros boatos,
De todas as coisas em todas versões.
És ainda lasciva como a proposta
O o acerto feito com a mulher impudica
Que sobre ti, seios à mostra, se debruça.
Mesa de botequim, és filosófica,
És culta, política, idealista,
És humana com mil sentimentos:
Mesa de botequim, tu és o mundo.
1980
Barão da Mata
quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013
VERSÃO BRASILEIRA...2
O ASTRONAUTA DE MÁRMORE
Qualquer um que tenha curtido o auge do rock brasileiro nos anos 80, se encantou, certamente, com a canção que consolidou nas paradas, em 1989, a banda "Nenhum de Nós" (o primeiro sucesso havia sido "Camila, Camila de 1988). "O Astronauta de Mármore" com seu solo magnético de violino, tocava em onze entre dez rádios, e em doze entre onze festas americanas, regadas a litros de hi-fi bem aguado.
Pois bem, vários desavisados que idolatraram aquela banda sem entender muito de rock, não imaginavam que a música era na verdade uma versão da canção "Starman" de David Bowe, lançada em 1972.
Hoje em dia, Nenhum de Nós vive uma fase independente, sem vínculos com as grandes gravadoras (elas ainda existem?).
A coluna "Versão Brasileira..." destaca hoje três intrepretações da canção "O Astronauta de Mármore", incluindo a original "Starman" de David Bowe. Matem as saudades...
Versão: Nenhum de Nós
Gravada no Album "Cardume" de 1988
Video retirado do DVD "A céu aberto"
Canção Original: David Bowe "Starman"
Do Álbum "The Rise and Fall of Ziggy Stardust an Ths Spiders from Mars" de 1972
Versão: Seu Jorge
Do album: "Seu Jorge - The Life Aquatic Studio Sessions" de 2005
Leônidas Falcão
terça-feira, 5 de fevereiro de 2013
Assinar:
Postagens (Atom)