A maneira como as classes sociais se veem no Brasil chega a ser risível: o pobre se vê como classe-média baixa, o classe-média baixa se vê como classe-média- intermediária, o classe-média- intermediária se vê como classe-média-alta, e todos odeiam pobres e defendem os ricos e os da alta classe média com unhas e dentes, de um modo veemente e canino, numa demonstração impressionante e espetacular de burrice. Já a classe média alta e os ricos, por sua vez, se dizem pobres ou classe-média-baixa e odeiam e desprezam todas as outras classes citadas anteriormente, além de sugá-las de um modo tão vampiresco que as torna a cada dia mais esquálidas e raquíticas. Por isso o Brasil só progride no topo da pirâmide.
Uma vez o Gilmar, um infeliz que conheci na era Collor, que ou está hoje com 86 anos ou sofrendo martírios terríveis na imensa ala dos imbecis lá do Inferno, me disse que eu tinha inveja dos ricos e deveria lutar para me tornar um deles em vez de atacá-los, e que tudo faria para tornar-se ou à filha única membro da elite. Duvido que tenha conseguido, se era mais pobre e mais burro do que eu. Uma outra peculiaridade desse personagem esquisito é que ele idolatrava um primo nazifascista da esposa, sujeito que defendia que pobre devesse ser morto pra doar compulsoriamente os órgãos aos ricos. Garanto que nenhum abastado iria querer o cérebro do Gilmar.
Ser anticollor e antidireita, naquela época, me valeu uma vez, numa mesa de bar, um cerco de reacionários que me colocaram na berlinda e foram às raias da ofensa pessoal e estavam dispostos a partir pra agressão física por minhas ideias progressistas. Saí dando-lhes as costas e nunca mais falei com aquela gente fétida.
Uma lição que tiro dessas questões é que as classes mais altas são felizes e não confessam, e as outras são infelizes e não sabem.
Tudo isso são coisas desse nosso "Brasil brasileiro", esse "mulato inzoneiro" que é predominantemente racista além de fascista.
Somos a República dos Bobalhões.
Barão da Mata