O cinema americano lançará nas próximas semanas uma produção intitulada "O Dia Que Durou Vinte Anos", que corrobora o artigo que publicamos em 28/09/2012 e é calcado na edição do "Jornal do Brasil" de 27/11/1988, cuja importante matéria estampamos aqui parcialmente.
A nossa matéria está em http://baraodamataprosa.blogspot.com.br/2012_09_01_archive.html e adiante a reproduzimos:
"POR QUE O BRASIL CHORA KENNEDY?
É difícil entender como John Kennedy, apesar de americano, transformou-se aqui no Brasil numa espécie de mártir brasileiro e herói nacional. Não sei como tantos e tantos brasileiros choram e lamentam a morte do presidente americano, num sentimento parecido com o de criança que de repente se vê órfã de pai. Isto só pode ser atribuído à ignorância, total desconhecimento do que representou o mandatário americano para o nosso país.
O extinto “Jornal do Brasil”, nos anos oitenta, publicou uma matéria intitulada “A herança de Kennedy para o Brasil”, em que fala da troca de memorandos entre este e a Cia., envolvendo levantamento de dados sobre João Goulart, presidente do Brasil entre 1962 e 1964, e suas inclinações ideológicas, com vistas a alijá-lo do poder. Tal conspiração contava com a participação fundamental de Lincoln Gordon, embaixador dos Estados Unidos no Brasil à época.
O golpe que arrebatou Jango do poder se consumou em 1º de abril ( o dia da mentira mesmo!), não em 31 de março de 1964, como querem os militares.
Kennedy foi assassinado antes disto, em 1963, em Dallas, no estado do Texas, não viveu para assistir à consumação dos seus planos, mas já deixara traçado o nosso destino, como quem faz legado de uma herança maldita. A sua obstinação em derrubar Jango foi tão grande, que, segundo as palavras do almirante Paulo Mário, ministro da marinha do presidente gaúcho nos últimos dias que antecederam o golpe, as forças leais ao mandatário brasileiro tinham plenas condições de vencer um possível embate, o próprio ministro já se preparara para reagir, tendo sindo impedido por Assis Brasil, que lhe trouxe ordens expressas do então chefe do governo do Brasil para que não reagisse em nenhuma hipótese. Nada restou então ao almirante senão capitular. Tempos depois, conforme relatou , soube que já havia submarinos americanos na região costeira do Brasil, prontos a atacar em caso de haver reação. Ou seja, Jango cedeu para que o Brasil não fosse transformado num outro Vietnã.
Analisando os fatos, se o Brasil chora a morte de Kennedy, faz isto esquecido de chorar Wladmir Herzog, Rubem Paiva e tantos outros que foram cruelmente assassinados em decorrência das articulações do defunto que insiste em carpir. Se formos ter os guerrilheiros (os que se armaram contra o regime militar) na conta de também seres humanos (como eles merecem), não podemos esquecer que Carlos Lamarca foi executado a sangue frio, quando já morria de fome e sede no sertão da Bahia, que Carlos Marighela teve a vida ceifada numa arapuca armada pelo sanguinário e psicopático Fleury; que Stuart Angel Jones também foi cruel e covardemente morto, assim como Zuzu Angel, mãe da vítima, por querer apurar as circunstâncias da morte do filho. Ou seja, como é possível chorar um defunto que marcou por sua atuação póstuma de produzir uma série de mortes?
É claro que Kennedy não deve ter sozinho tomado a decisão de transformar as coisas aqui num inferno, pois era apenas parte de um sistema que se urinava de medo de a revolução cubana se expandir por toda a América Latina, mas ainda assim não pode ser poupado do severo julgamento da posteridade, sobretudo por ter sido peça de suma importância e grande poder de fogo naquele processo.
2012"
16/04/2013
Os Pensadores de Birosca
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