Em meados de 2013, esta birosca vivia um momento de produção intensa e boa parte deste conteúdo era dedicada às manifestações populares que tomaram as ruas das principais capitais do país. Em meio à realização da Copa das Confederações, em que a seleção canarinho vinha se destacando em campo, a juventude parecia rejeitar a “boa e velha” política do "pão e circo", que em tempos de ditadura distraía milhões em ação.
Aquela energia contaminava a todos que só precisavam de um empurrão para exercer sua indignação com a situação de um país, que há muito tempo precisava mudar.
Milhares e milhares de pessoas juntas, cantando o hino nacional, enfrentando a truculência de policiais despreparados. Foi impossível, então, conter a empolgação. Mesmo para os desconfiados “Pensadores de Birosca”, que se deliciaram ao perceber o governo atônito, convocando reuniões de emergência, pronunciamentos em rede de Rádio e TV, tudo por conta da iniciativa popular.
Bem, este é o lado mais belo, o da propaganda de campanha. A outra face aos poucos mostrou que o movimento, que se exigia apartidário e sem líderes, carecia, justamente de liderança, talvez para direcionar objetivos pelos quais lutar. Depois, notou-se que os articuladores das grandes reuniões eram, na verdade, defensores do PT e da continuidade do governo, contra os quais fingiam lutar. E por último, baderneiros se infiltraram nas manifestações e, com atos de violência gratuita, devidamente fomentada por quem estava do outro lado, foram minando a participação da massa que, com medo de tragédias cada vez mais iminentes, voltaram para suas casas, ligaram suas TVs, e aos logo, tudo voltou ao “normal”.
Mas por que mesmo todas aquelas manifestações haviam começado? Ah sim, claro! Inicialmente, o povo foi às ruas contra o aumento das passagens de ônibus, que haviam ficado vinte ou trinta centavos mais caras.
E daí, que olhando pras manchetes que nos tem embrulhado o estomago, não dá para não fazer a próxima pergunta. Aliás, a questão será a chave para o desfecho destes meus devaneios, típicos dos Pensadores de Birosca:
“Quer dizer que trinta centavos foram suficientes para levar o povo à indignação, mas toda a bandalha que não para de aparecer dia a dia, não diz nada ao Gigante, outra vez sonado?”
Tal atitude, melhor condizente com a tradição mais recente da população brasileira, do que aquela de 2013, me trouxe à memória um episódio marcante da política brasileira, que para muitos significou o primeiro passo dado em direção à ditadura militar:
Em 1960, depois de muito perder para Getulio Vargas e seus herdeiros políticos, a UDN parecia finalmente chegar ao poder, graças ao exótico e carismático candidato à presidência Jânio Quadros, que prometia varrer, com sua vassourinha, a corrupção para fora do país. Pois é, naquele tempo tinha esse negócio de corrupção por aqui...
Menos de 01 (um) ano foi necessário para que o novo presidente minasse sua base de sustentação política. Uma série de atitudes controversas ameaçavam o novo governo. Jânio acreditava ter o dom para o exercício do poder. Mas cria também que precisava de mais liberdade para governar. Pressionado e frustrado com a realidade, Jânio fez o que ninguém esperava. Renunciou.
Muitas foram as especulações em torno das “forças ocultas”, que segundo o próprio termo de renúncia, haviam levado Jânio à abdicar. De acordo com a tese mais repetida em botecos, ele teria feito o que fez esperançoso de retornar, aclamado, nos braços do povo, única situação que poderia garantir a legitimidade para governar à maneira que desejava. Foi com base nesta hipótese, que surgiu o folclore da célebre frase, que Jânio teria pronunciado ao perceber que não haveria reação popular ao seu inesperado ato. Copo de uísque na mão, Jânio teria dito com sua peculiar e inconfundível entonação:
- E o povo que não se levanta!
O fato é que depois da proibição do biquíni, uma aparente aproximação com Cuba, condecoração de Ernesto Che Guevara e boatos sobre o frequente estado etílico de Jânio, o povo não se moveu.
Mas não é disso que se trata, mas sim que, para me referir ao caos de 2015 e diante da pergunta chave deste post, exposta um pouco acima, não me resta outra ideia, senão recorrer à famosa sentença de Janio:
- E o povo que não se levanta!!!
Leônidas Falcão
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