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domingo, 13 de setembro de 2015

A RAINHA E O MALDITO PERGAMINHO - - - - - - - - - - POR QUE NÃO HOUVE MAIS PESQUISAS SOBRE O GOVERNO DA RAINHA? NÃO FAZÊ-LAS FUNCIONA?

Num reino distante, localizado bem no fundo de uns confins sulamérico-lationafricanos,  a rainha acordou num domingo sobressaltada com os brados, vuvuzelas e tambores de uma incalculável multidão. Em vez de ir ver o que ocorria de uma das janelas dos seus aposentos, preferiu correr até os aposentos do seu primeiro-ministro-da-Justiça.  Bateu à porta.
- Quem é? - perguntou o assessor.
- Sou eu, Brás Seboso! Eu, a tua Rainha!
De pronto o ministro colocou umas calças sobre as ceroulas, vestiu um camisolão sobre o dorso,  amarrou uma gravata ao pescoço e abriu a porta:
- O que ocorre, Majestade?
- Eu que pergunto,  pô! Que balbúrdia é essa lá fora?
Brás Seboso coçou a cabeça, um tanto quanto embaraçado:
- Perdoai, Majestade, mas ao que tudo indica é uma manifestação contra Vosso Governo.
- Que absurdo! - a rainha, furibunda. - Trata de te arrumares e descer para falar em  meu nome e receber tão calorosa multidão.
Logo depois a rainha vai às acomodações do seu segundo-ministro-da-Justiça, Dinardo Zé Dembrowski:
- Quem bate? - este também indaga.
- Tua rainha, porra! Será que vou ter de dizer o mesmo pra todo mundo?! 
Compõe-se o segundo-ministro-da-Justiça, entreabre a porta:
- Em que vos posso servir, Magnífica?
- Que porra de barulho é esse lá fora?! Tirou a mim do meu nobre sono.
- Ora, Majestade - sorria amavelmente Zé Dembrowski - não vedes que é uma homenagem que vos faz esse tão agradecido e amantíssimo povo?  É vossa gente a vos aclamar!
- Também achei isso, meu ministro.  O Brás Seboso disse umas coisas que não me agradaram.  Se assim ele continuar, elevar-te-ei a primeiro-ministro-da-Justiça.  Por ora volta ao teu repouso e te refestela em tua alcova.  Se precisar de ti para alguma coisa, peço que meu terceiro-ministro-da-Justiça, o Bendigo Platô, fale contigo.
- Assim seja, Amada Rainha! - curvou-se o ministro. Fechou devagar a porta: - Com licença, Majestade...
Em vez de olhar pela janela, a rainha ligou a televisão, viu na TV OVO a jornalista Luciana Bobo babando pelos cantos da boca enquanto enquanto dizia:
- Os honrados cidadãos deste Reino, numa manifestação espontânea, saúda a Sua Rainha!  é a coisa mais linda de se ver!
Achando que aquela profissional de imprensa era bajuladora por demais, resolveu trocar de canal, e numa emissora um repórter dizia:
- É a maior manifestação contra a rainha que já se viu.
- Como????!!!!!!!! - ela deu um pulo da cadeira, rubra, furiosa!
Saiu de seus aposentos em passos barulhentos e vigorosos, encontrou o bobo da Corte, Guálber Peita, no caminho e deu-lhe em empurrão:
- Sai da frente, que tu só abres a boca pra dizer asneira!  Cadê meu arauto, o Vadinho Ilva?
- Acho que  atrasou-se, pois passou a noite exercendo suas funções de arauto, a propalar pelos quatro cantos do Reino:
- Tudo está bem  e a paz impera no Reino da Tupiniquínia...!
Bastou o bobo acabar de falar para o arauto entrar, apressado, olheiras profundas, ar cansado, aflito, e abraçar a rainha:
- Magnífica, dizei-me por Deus o que vos aflige!!  Não vos quero ver a consumir-vos...
- Porra, não me apertes assim, Vadinho!  Assim tu me esmigalhas!  Só quero saber de ti uma coisa: o povo lá fora me execra ou me saúda?!!!!
Vadinho sorriu por longos momento...
- Anda, desembucha! - ela o apressou.
O homem respondeu docemente:
- Claro, Maravilhosa, que vos saúda... que vos saúda, vos louva, vos exalta, vos festeja,  Nobre Rainha!
Foi quando surgiu  o ministro da Legislação, Orlan Baleiros, com um pergaminho nas mãos:
- Majestade,  perdoai-me, vos peço de todo o meu coração... - Ajoelha-se diante da mandatária: - mas trago aqui umas informações que indicam que Vossa Majestade só tem  a aprovação de cinco por cento  da população do país.
- O que????!!!!!!!! - a nobre quebrou tudo à volta - Com que então só tenho cinco por cento???!!!! Pois me chama o Vice-Rei agora!!!!!!!  Ele vai ter de dar um jeito nisso!
- Perdão, Sublime - interveio Guálber Peita, o bobo - mas o Vice-Rei Gílson Treme saiu de fininho antes de o dia amanhecer.
Bateu ela com os pés no chão:
- Droga, e agora?!!!  Droga, e agora?!!!
- Calma, Rainha - sugeriu o ministro Orlan Baleiros - chamai vosso Conselheiro e quase pai, o Grande e Augusto Gulla.
- Não precisa!!! - bradou Gulla enquanto vinha de um ponto distante do castelo.  Não precisa porque já me enconto aqui.
- E essa gente que te acompanha? Quem são? Que comitiva é essa? - perguntou a rainha.
- São jornalistas, mulher! Querem saber o que tu dizes dessa pesquisa e das manifestações.
Levou a mulher a mão à boca aberta, sem saber o que dizer, voltou-se para os jornalistas:
- Posso me reunir com os assessores antes de responder?
Ante a concordância dos repórteres, a rainha reuniu-se com seus assessores durante vinte e quatro horas e depois voltou:
- O que fazem aquelas pessoas lá fora? - indagou.
- São manifestantes querendo vossa saída.
A rainha colocou o dedo em riste, altiva:
- Conspiradores, vocês querem dizer.
- Mas, Majestade, são noventa e cinco por cento...
- Por isso mesmo! Pra vocês verem os riscos que corre a democracia em nosso país.  Noventa e cinco por cento da nossa população não estão satisfeitos com a democracia e com o aumento do nível de vida de toda a minha gente...
- Mas são noventa e cinco...
- Cala a boca, eu que falo! É que eu elevei tanto as condições do povo, que agora a elite, numericamente  majoritária por conta da minha política social, vem agora querer dar golpe por não suportar os pobres que ainda restaram e logo enriquecerão.  As elites não toleram a ideia de que muito brevemente os cinco por cento de pobres estarão ricos! Ricos graças a mim!
Gulla tinha uma voz tão ativa naquele reino, que às vezes as pessoas não sabiam se o mandatário era ele ou a rainha.  Aproveitou o homem para brandir os punhos (como sempre) e bradar (também como sempre): 
- É a ingratidão daqueles que enriqueceram através de nossas políticas sociais, que dos habitantes do Reino da Tupiniquínia fizeram uma sociedade abastada que agora não mais quer um governo popular!!!!  Isso não permitiremos!!!!
- De modo algum!!!! - entrincheirou-se o bobo da corte atrás de uma mesa - Estou disposto a empunhar meu estilingue!
Um profissional de imprensa ainda tentou ponderar:



- Mas, Majestade, as pesquisas...
- Pois então - levantou a voz a rainha - que não mais haja pesquisas!  Está decretado que a partir deste momento nenhuma pesquisa de opinião será mais realizada no Reino da Tupiniquínia.
- Mas...
- Nem mas nem meio mas!!!! Eu sou a Chefe dos Três Poderes e Suprema Rainha! E  decreto: nunca mais pesquisas neste Reino!!!
Daquele momento em diante não houve mais nenhuma pesquisa. E foi assim que a TV Ovo, a rainha, a nobreza e aquela maioria de cinco por cento da populaçãoo foram felizes para sempre.

Barão da Mata







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