Quando eu era menino, e aliás ainda na minha adolescência e juventude, as pombas eram símbolo da paz, do amor e sempre mencionadas em poesias cujo tema fosse uma coisa ou outra. A partir dos anos 1990, começa-se a descobrir que são capazes de transmitir (involuntariamente, é sempre bom lembrar) uma série de doenças. Protetores de animais, na época, sugeriram que as prefeituras lhes dessem alimentos com substências anticoncepcionais, porque, sem procriação, a espécie se extinguiria sem traumas. Acontece, no entanto, que, pouco afeitos a trabalhar e a gastar senão com autopropaganda e obras inúteis e faraônicas, os prefeitos preferiram lançar uma perversa campanha antipombos, e os bichinhos, até os dias de hoje, são visto, mais do que como ratos de asas, agora como verdadeiros demônios alados. Quando começou a maldita campanha, o Alfredo Sirkis defendeu o extermínio das aves por não terem elas nenhum papel dentro do ecossistema. E aí eu pergunto: e ele? Que função ecológica tem? Vamos exterminá-lo por isto? Deveríamos? O que fazer com os políticos eu não sei, mas tenho certeza de que a partir do tempo a que aludi há uma covarde campanha implícita de "mate um pombo pelo bem-estar da humanidade".
Não quero questionar os pesquisadores que descobriram o número e a gravidade das doenças que os pássaros de que trato transmitem, mas não acho que, salvo em condições extremíssimas, não temos o direito de sair por aí exercendo crueldade e ceifando vidas e mais vidas. Não creio que haja uma vida além desta que vivemos e justamente por isto acho que devemos vivê-la da melhor maneira possível, sem sofrimentos e sempre procurando fugir à morte. Portanto, se a vida é única e devemos ter o direito à vida respeitado, por que os animais não? Calma: não defendo a vida de algumas criaturas em casos extremos. Vou explicar: deixo - e isto não é mais do que minha obrigação - viver até os insetos não nocivos, como besouros, borboletas, mariposas, abelhas, maribondos. Maribondos e abelhas, sim! Assim como as vespas! Por quê? Os jardins, bosques e matas são o habitat dos maribondos, e não devemos incomodá-los. Agora, é claro, se houver um ataque de um ou mais exemplares dessas espécies e não vir omo fugir, ou se ainda as outras pessoas ficarem expostas à fúria de tais espécimes, é claro que os mato, com inseticida ou pancada, sem hesitar. O mesmo se aplica a uma aranha venenosa, que, se ameaçar a mim ou a qualquer outro ser que não lhe sirva de alimento ou lhe seja inimigo natural, não terei dúvidas na hora de não poupá-la. É claro que não sou maluco e extermino baratas, moscas, formigas, mosquitos, etc... mas juro que tenho o cuidado de fazê-lo sem requintes de crueldade.
Já defendi aqui os ratos que servem de cobaias, porque são dóceis e mansos, mas jamais defenderia o rato de esgoto, que é, como quero provar, muitíssimo diferente dos pombos! Os roedores urbanos são agressivos, ferozes, atacam tudo o se mexa ou se coloque diante deles. Um pombo, se acuado, tenta fugir, enquanto um rato pula sobre você e o corta com uma mordida. Quando urina em alimentos ou mesmo dentro dos esgotos, provoca a leptospirose, que vem nas águas das enchentes. Os pombos, por sua vez, permanecem em abrigos altos, longe de você, só descendo ao seu quintal se alguém não tiver o cuidado de evitar lhe deixar algo para comer.
Se você atentar para o paralelo que traço entre um e outro animal, irá se dar conta de uma verdade que faria qualquer humorista estrangeiro (brasileiro, não, porque estamos na linha de fogo) fazer um sem-número de piadas bastante risíveis: as autoridades sanitárias implicam com os pombos e não se preocupam com os ratos, como se estes últimos fossem obedientes, mansos, afetuosos e higienizados bichinhos de estimação. Na sua cidade as autoridades sanitárias pedem esforços para matar os ratos?
Uma vez exterminei os ratos do quintal de uma casa onde morei bastando para tanto usar um sachê com uma substância que é pouco ofensiva para os outros animais e que faz que as ratazanas, após comê-la, adoeça mortalmente e ainda transmita a doença ao seu grupo. Se colocada nos esgotos, só os ratos serão envenenados. E é um sachê barato e de pouca toxicidade para humanos e outros animais. Quando o usei, enluvei por precaução as mãos e o coloquei nos focos dos bichos, fora, é claro do alcance de outros animais. Juro que, se me lembrasse do nome do produto, divulgá-lo-ia agora mesmo. Mas as autoridades sanitárias do seu município, quanto as do seu estado e da própria União, têm a obrigação de descobrir o sachê e desviar um pouco da verba polpuda que utilizam em autopropaganda eleitoreira para investir em combate a ratos nocivos. Acho que é essencial que cobremos isto delas.
Quanto aos pombos, vêm vivendo nas sarjetas e comendo nelas o que quer que encontrem, e as doenças que trazem nas asas são trazidas não deles próprios, mas das sarjetas que frequentam, porque são imundas, e as cidades do país, como os estados e o governo federal, não têm uma política sanitária. D
everiam se envergonhar disto, porque só ouvi falar em política sanitária no Brasil quando o prefeito Pereira Passos, pelos idos de 1903 ou coisa próxima, trouxe da França o brasileiro Oswaldo Cruz, que erradicou a dengue (que voltou em 1986 ), vacinou a população em larga escala e adotou uma política de ostensivo combate aos ratos, tirando o Rio de Janeiro da condição de rota a ser evitada pelos navios de passageiros que vinham visitar o Brasil. Gestores vergonhosos os que temos hoje, não?
everiam se envergonhar disto, porque só ouvi falar em política sanitária no Brasil quando o prefeito Pereira Passos, pelos idos de 1903 ou coisa próxima, trouxe da França o brasileiro Oswaldo Cruz, que erradicou a dengue (que voltou em 1986 ), vacinou a população em larga escala e adotou uma política de ostensivo combate aos ratos, tirando o Rio de Janeiro da condição de rota a ser evitada pelos navios de passageiros que vinham visitar o Brasil. Gestores vergonhosos os que temos hoje, não?
Não é difícil atrair os pombos para espaços que a eles se reservem com alimentação misturada a contraceptivos para tais aves. Não é preciso adotar política de matança. E seria fácil acabar com as sarjetas se os moradores de rua fossem colocados em abrigos - mas abrigos sem "xerifes" e gangues, com fiscalização de guardas, abrigos dignos realmente do nome. Aliás, a prefeitura de sua cidade, a sua unidade da federação e a própria federação têm dinheiro também para criar abrigos para cães e gatos. Da mesma maneira como têm verbas para investir em hospitais e saúde de um modo geral. Prova de que não minto é a fábula que está sendo gasta em favor da copa do Mundo e das Olimpíadas, para o benefício tão somente dos empresários da rede hoteleira e dos bares e restaurantes. Até os empregos que os eventos irão gerar serão meramente temporários.
Por fim, sugiro que pressionemos os mandachuvas a se incomodarem menos com os pombos (eleitos para bode expiatório) e invistam o que nos devem para desmantelar os ambientes de onde os pombos trazem os germes que garanto que, se tivessem inteligência humana, não gostariam jamais de transportar.
Barão da Mata
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