- Tô tirando, querido! Calma! Também tô cheia de vontade! Pronto! Já tirei!
- Vai, amor, vai, faz aquela posição do gatinho caçando...
- Ah, amor... O gatinho caçando, não...
- Vai, faz, essa posição me dá um prazer animal...!
- Ah, mas já tem duas semanas que a gente só faz o gatinho-caçando...
- Custa você fazer mais uma vez?
- Ah, custa... tô cansada do gatinho-caçando...
- Como você é egoísta, hem? Só pensa em você.
- Não, senhor, você é que só pensa em você! Minha mãe sempre me disse isso e é verdade.
Eu devia tê-la ouvido e não me casado com você.
- Será que até aqui a sua mãe tem que se meter?
- Ela sempre me disse que você parece perverso... e pelo visto tem razão!
- Tá bom, tá bom! Não estamos aqui pra brigar. Pega o livro das posições.
- Tá bom, vou pegar: tá bem na gaveta do criado-mudo.
- Então, pega, meu amor!
- Ih, não tá! Onde foi parar?
- Não é possível!
- Será que a Faustina pegou, levou pra casa sem me avisar?
- Mas que empregada abusada! É melhor demitir ela amanhã assim que chegar.
- Vou procurar na estante...
- Na estante??! E a estante é lugar de guardar esse livro? E se as crianças veem?
- De qualquer modo vou ver se tá lá.
- Vai logo, volta logo.
- Ih! Não tá!
- Mas que sacanagem! Perder logo um livro desses...!!
- Ah, amor, então vamos resolver nós dois. Vou pôr a roupa de normalista.
- Ah, não! Normalista, não!
- Por que não?! Gosto tanto dela!
- Tá bom, tá bom! Vou me fantasiar também. Vou colocar a roupa de caubói.
- Ah, não! Caubói, não!
- Mas por quê?
- Você fica machucando minha cintura com o coldre. Fico toda arranhada.
- Ah, não! Eu deixei você se vestir de normalista.
- Puxa, como você é dominador! Quer mandar em tudo!
- Você que parece que tem o prazer de não fazer o que eu quero.
- Tá bom. Então eu tiro a normalista. Escolhe outra fantasia pra mim. Mas você não usa a de caubói: você é muito americanizado.
- Tá. Então põe aquela de freira.
- Ah, que idéia maravilhosa!
- Põe logo a fantasia, minha potranquinha!
- Pronto, já coloquei. Vem, amor!
- Gostosa, tô indo!
- Ã-ã! Primeiro põe uma fantasia.
- Vou me vestir de peão.
- Mas por favor, não sobe na cama de botas.
- Tá, eu concordo.
- Vestiu?
- Vesti. Você também, né?
- Então vamos lá! Tô doidinha!
- Peraí! E a posição?
- Tá bom, escolhe você.
- Vamos fazer a posição Obama.
- Obama??!! Ah, não!
- Ué, mas por quê?
- Ah, não! Você fica me olhando e ouvindo todinha, fico constrangida.
- Mas eu sou teu marido.
- Mas não me sinto bem. Se tiver barulho de gases dentro da barriga, fico sem graça, e você colocando o olhão em tudo que é lugar... ah, não! Só descontraio pra isso quando bebo.
- Então bebe um vinho. Eu abro um que tá lá...
- Mas eu tomei um ansiolítico.
- Que droga!
- Não se irrite, ora!!! Não disse que você é americanizado?!
- Ai, puxa vida!
- O que você quer que eu faça?
- Só faltava essa... Viu como nessas horas o livro faz falta?
- A culpa não é minha, vou perguntar amanhã à Faustina...
- Então escolhe você a posição.
- Escolho a cachorrinho-cansado.
- Não, essa já fizemos na semana passada.
- Então o maratonista.
- Essa me cansa demais.
- Mas como você é enjoado!
- Enjoada é você. Cheia de não-me-toques, nunca concorda com nada.
- Se é assim, vai lá: escolhe outra posição.
- A cavalgada, tá bom?
- Ah, essa tá!
- De acordo?
- De pleníssimo acordo! Então vamos lá?
- Claro que sim, vamos, potranquinha!
Toc, toc, toc!
- Bateram na porta?
Toc, toc, toc!
- Bateram.
- Quem é?
- Mãããe, sou eu, Juninho...! Tô com medo de dormir no meu quarto...!
Barão da Mata
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