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sábado, 3 de agosto de 2013

A MULHER DO GOMES

A mulher do Gomes é uma simpatia:
Quando vê passando um rapaz vistoso,
Logo morde os lábios, se enche de alegria,
Lhe sorri de um modo muito afetuoso.

A mulher do Gomes é de grande apreço:
Os rapazes dizem que é tão sociável,
Que conhece algum, pega o endereço
E o visita e aperta – que mulher amável!

A mulher do Gomes é tão distraída,
Que, ao sair com este, perde-se na rua,
Quando  dá por si, desperta, exaurida
Num quarto de estranho, de ressaca e nua.

A mulher do Gomes é tão bem-querida
É por todos homens sempre elogiada,
E o marido a olha sempre enternecido,
E agradece aos anjos ter aquela fada.

                             II

(A DEFESA DA MULHER DO GOMES)

Mas com que motivo essa gente infame
Vive insinuando que sou leviana,
Se em meu altruísmo, só há quem me ame,
Se sou caridosa, de amizade insana?

Só porque o  carteiro, um rapaz garboso,
Se queixou do sol terrivelmente quente,
E eu, de um modo materno e afetuoso,
Me banhei com ele muito humildemente.

Só porque um rapaz, muito gentilmente,
Num final de tarde, num metrô lotado,
Para proteger-me, pôs-me à sua frente
E muito gememos, ternos e agarrados.

Só porque o vizinho é muito inspirado,
Diz ao meu ouvido verso arrepiante
Enquanto me abraça bastante apertado,
Ficam os canalhas nos dizendo amantes.

Só porque meu primo, homem de coragem,
Me conta seus feitos e brigas e glórias,
Eu eu lhe beijo o púbis de três tatuagens,
Já ficam dizendo que temos história.

Não sabe essa escória de língua ferina
Que eu sou tão carinho, tão afeto e paz,
Que vejo os humanos súplices, meninos,
Que a bondade minha é grande demais.

Barão da Mata

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