Embarcando na onda do antigo humor "Satiricom", extinto ainda nos anos setenta e que tinha presenças como Jô Soares, Renato Corte Real, José Vasconcellos, Agildo Ribeirro, Paulo Silvino, além de Haroldo Barbosa entre os escritores, sendo, a meu ver, o melhor humor da tevê nacional de todos os tempos... adotanto a expressão que usavam quando falavam em produções óbvias, vou parafraseá-los em dizer "aprenda a ver as novelas das oito (que acontecem às nove, nove e meia, sei lá)".
Lição número um: toda trama das oito tem um(a) milionário(a) mau-caráter e extremamente cruel, que sempre acaba mal no final.
Lição número dois: o(a) milionário(a) mau(á) tem invariavelmente um(a) cúmplice mau(á) e ambicioso(a), que tanbém dá com os burros n'água ao final da história.
Lição três: o mocinho é em todas os enredos um jovem pobre, mas talentoso e promissor, que enriquece pelos próprios méritos, a seguir empobrece por operações de sabotagem do rico ruim, mas depois reascende, casa-se com a mocinha da história e vive feliz para sempre.
Lição quatro: é obrigatória a existência de uma favela, vila, cortiço ou bairro pobre de subúrbio, onde acontecem uns dois ou três "barracos" por semana, com discussões e baixarias generalizadas entre vizinhos.
Lição cinco: hoje em dia tem sempre de haver personagens de países exóticos e cenas passadas nesses países, com bordões simplesmente insuportáveis, geralmente proferidos em alguma língua estrangeira.
Lição seis: sem triângulo amoroso não há novela. No último capítulo, todo mundo já comeu todo mundo.
Lição sete: é indispensável a presença de uma personagem que mostre sempre os contornos do corpo, como peitos, bunda, essas coisas, para garantir a audiência masculina.
Lição oito: tem sempre na trilha sonora uma música bem f... da p...uma coisa bem apelativa e de muito baixa qualidade, que toca umas cinco vezes por capítulo.
Lição nove: não há telenovela sem passeios de barco e um(a) filho(a) rebelde, seja do pobre ou do rico.
Lição dez:: não há trama das oito, nove ou sei lá sem um sabotador silencioso e sonso do mocinho.
Conclusão a que chego: nem o Papai Noel tem um saco tão reforçado como o do público, porque as novelas que atualmente passam nas tevês explodiriam quaisquer testículos normais.
Barão da Mata
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