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quinta-feira, 16 de maio de 2013

JOSENILDO, O INFELIZ NO AMOR


Josenildo jamais fora, ao menos por muito tempo, feliz no amor, e era, talvez por isto mesmo, um eterno apaixonado, louco por viver um romance de plena entrega, vulcânicos desejos, irremediável apego, idolatrias medievais, juras trovadorescas. Vivia a buscar uma cara-metade na acepção mais romântica da expressão, nunca fora, ou ao menos achava que nunca fora, amado pela maioria das mulheres que tivera.
A primeira namorada o traiu com o irmão dele, e isto fez que Josenildo adquirisse especial interesse por boleros. A segunda namorada disse não quando pedida em casamento. A terceira recusou-se a ir para a cama com o pobre, a quarta foi, mas rompeu o namoro no mesmo dia, fazendo-o tornar-se fã do Wando, e assim o desamado foi levando sua triste vida.
Entre tantas decepções, houve uma namorada com quem dormiu inúmeras vezes, com quem noivou, montou o enxoval e que não compareceu no dia do casamento. Aí, o sujeitinho descolou em algum sebo de discos um vinil com “O Ébrio”, de Vicente Celestino. Houve uma com quem chegou a se casar, mas foi obrigado a pedir o divórcio, pois, num dia em que voltara para casa mais cedo do trabalho, encontrou o vizinho em sua cama, a comprazer-se dos carinhos e volúpias de sua mulher, e, o que é pior, ainda a usar-lhe a cueca, que estava enrolada em uma das pernas. Foi um dia dramático: Josenildo gritou, possesso, ainda da porta do quarto:
-Vagabunda! Desgraçado!
Nada conseguiu dizer o vizinho senão:
-Deixa só a gente acabar esta transa, que eu vou embora.
E ela:
-Não se preocupe. Se você ficar quietinho, eu concordo com a separação amigável.
Num dia de relativa sorte (e vocês logo vão entender por que relativa), nosso coitado apaixonado acabou na casa de uma mulher casada que mal conhecia. Ela lhe fez juras de amor, os dois se acarinharam licenciosamente, e ele tinha as calças à altura dos joelhos quando ambos ouviram um barulho e ela disse:
-Meu marido!
Josenildo levou a mão à boca, estarrecido, a mulher jogou-lhe a camisa e murmurou, apavorada:
-Pula a janela, que dá tempo!
Ele levantou rapidamente as calças, foi fechá-la... mas prendeu o zíper no prepúcio! Fez um escândalo daqueles(!), não correu e levou cinco tiros na bunda.
Uma mulher apaixonou-se por ele verdadeiramente. O relacionamento evoluiu de forma meteórica. Foi uma perdição de amor, e os dois se casaram em dois meses. Jamais Josenildo fora tão feliz. Era aquele fogo queimando os dois constantemente, aquela entrega total e absoluta, aquele amor perfeito, aquela emoção a todo instante. Todos os dias o marido chegava em casa com flores e, num belo fim de tarde, introduziu a chave na fechadura, chamou pelo nome da moça e não ouviu resposta: entrou. Encontrou-a deitada no sofá, morta. A pobrezinha era cardíaca e seu coraçãozinho não aguentou tanta emoção a todo momento.
Desolado, o nosso mal-afortunado amante ficou um longo tempo em total solidão, até que, numa tarde de sol, conheceu Mariana, linda e gostosa morena, que fez do peito dele uma profusão de vendavais.
-Você me ama? – ele sempre queria certificar-se.
-Amo. Preciso de você como do ar que respiro.
Submeteu-a a todas as provas de amor e fidelidade, em nenhuma a morena tirou nota baixa.
-Você não está doente? Não tem Aids, coração fraco, nenhuma doença grave?
-Não! Estou perfeitinha para você!
Fê-la realizar uma série de exames, um check-up acuradíssimo: eletrocardiograma, ecocardiograma, teste de esforço, anti-HIV, sorologia, colesterol, glicose, triglicerídeos e uma pá de outros exames. Resolveu ele próprio fazer uma completa averiguação clínica. Tudo estava bem com ambos.
-Você quer casar comigo? – perguntou à namorada.
-É o que eu mais quero.
Josenildo era a cada dia mais inseguro:
-Você jura que não vai me trair?
-Juro que não.
-Jura que vai ter prudência quando dirigir?
-Juro.
-E quando atravessar também?
-Claro que juro!
Fez que ela aprendesse jiu-jitsu e a atirar. Presenteou-a com uma arma para autodefesa. Cercou-a de proteções.
-Você não vai me abandonar?
-Já te disse que não!
- Você já não é casada?
- Claro que não, seu tolinho...!
Marcaram o casamento.
A cerimônia matrimonial foi memorável. Os convidados lotaram a igreja.Fizeram a festa num clube, encheram-no de gente. Josenildo era o homem mais feliz do mundo, e achou que só com um bom porre proporcionaria uma comemoração à altura do acontecimento. Bebeu todas e mal conseguia andar.
No fim da festa, onde ficou até a saída dos últimos convidados, despediu-se dos padrinhos pela terceira vez enquanto Mariana e o motorista esperavam dentro do carro.
-Eu sou o homem mais feliz do mundo.– disse num último aperto de mão.
E encaminhou-se para o carro, eufórico, cambaleante, ergueu os braços e gritou:
-Eu sou o homem mais feliz do mundo!
Desequilibrou-se, caiu para trás, batendo fortemente a nuca no meio-fio da calçada.
Nunca se viu uma viúva tão inconsolável como Mariana.

fim

Barão da Mata

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