Um amigo me contou que certa vez, lá na Prado Júnior, esteve com um amigo numa termas, dessas onde as pessoas se despem, mas a última coisa que fazem é (quando fazem) tomar um bom banho. Estava duro feito um coco, mas o sujeito que o acompanhava estava prevenido, pronto para gastar, e aí meu conhecido depositou nele toda a confiança.
Deste modo, ambos consumiram todas as bebidas, deitaram-se com mulheres, satisfizeram seus desejos, e um monte daquelas moças ficou todo o tempo pedindo que lhes pagassem uísques e foram plenamente atendidas pelo que tinha dinheiro.
A certa altura da noite, duas garotas muito bonitas e vistosas se aproximaram, sentaram-se à mesa dos amigos e, dizendo-se modelos e apenas observadoras das noites cariocas, ficaram com eles a conversar. O que podia gastar, fascinado por elas, começou a mandar descer vinhos, castanha de caju e continuou a pagar bebidas a quem lhe pedisse. Não adiantava o meu amigo preveni-lo de que tudo aquilo não acabaria bem, porque o homem tava porque tava encantado pelas duas.
Lá pelas três e tanto da manhã, as duas se afastaram e sumiram. Bêbados e cansados, os dois resolveram ir embora e foi pedida a conta. Aí aconteceu o grande problema: era uma conta as-tro-nô-mi-ca! Dava para sustentar uma família de quatro pessoas por um mês inteiro ou mais. Ao recebê-la, o provido de verba bradou logo, em sua língua embolada de bêbado:
- Não pago!
- Por que? - o garçom perguntou.
- Vamos conferir! - o outro exigiu.
Passou-se à conferência:
- X uísques.
- Certo.
- X porções de castanha-de-caju.
- Certo.
- As mulheres.
- Certo!
- As acomodações.
- Certo.
- X "camisinhas".
- Certo.
- X "camisinhas".
- Certo.
- Então?
- Não pago!
O garçom:
- Vamos conferir novamente.
- Certo!
- X isso.
- Certo.
- X aquilo.
- Certo.
- X aquilo outro.
- Certo.
- E agora?
- Não pago!
Os dois estavam bêbados, mas muito bêbados, e o amigo de bolsos vazios contou que ficou curado do porre instantaneamente quando viu repetir-se o impasse. Começou a se imaginar com a foto e o nome nos jornais do dia seguinte, com os hematomas e edemas de praxe deixados no rosto pela segurança do estabelecimento, para depois ter de enfrentar uma ação de divórcio. Assim, desesperado, ficava tentando aconselhá-lo:
- Vamos fazer o seguinte: você paga e a gente não volta mais aqui.
- Vamos fazer o seguinte: você paga e a gente não volta mais aqui.
Conferiram tudo de novo: X isso, X aquilo, X aquilo outro, tudo certinho, novamente "não pago(!)".
Até que o funcionário da casa desistiu de cobrar, chamou o gerente, que conferiu tudo pacientemente, e, após um último "não pago", recebeu o que era devido.
Meu amigo disse que nunca foi tão religioso e nunca rezou tanto num lugar de tanto pecado.
Meu amigo disse que nunca foi tão religioso e nunca rezou tanto num lugar de tanto pecado.
Barão da Mata
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