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domingo, 2 de dezembro de 2012

A SERPENTE DO PARAÍSO FOI O PRIMEIRO DE TODOS OS ANARQUISTAS


Já ordenara o Senhor Deus:
"De toda  árvore do jardim comerás livremente,
Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás."  - Gênesis 2:15-17.

E não é que a serpente, anárquica e rebelde, ficou soprando ao ouvido da Eva?
- Qual é, Eva? Não tô nem te entendendo!  Vai-me dizer que vai entrar numa de bancar a servil e  obedecer aos caprichos do Todo Poderoso? Pô, Eva, não entra nessa!  Vai agora ceder a pressões de cima, capitular aos desígnios do poder?  É preciso  desobedecer, gata(!), e mostrar que você e o Adão são autossuficientes e senhores dos seus narizes, e não aceitam essa postura autoritária e antidemocrática, essa coisa assim ditada de cima pra baixo e sem nenhum debate político.  Desobediência já!
A mulher olhou para Adão, viu-o vacilante,  pegou na árvore o fruto e deu-se a morder a última:
- É isso aí, serpente!  Chega de totalitarismo!  O Senhor tem toda a força do Universo, e nós, cidadãos capazes de governar a nós próprios, não podemos acatar ordens ou determinações de nenhum gestor, porque simplesmente repudiamos e renegamos a figura da autoridade e reivindicamos o nosso legítimo direito à autodeterminação.
- Apoiada! - bradou Adão brandindo os braços.
Depois deu o sururu que você sabe: após comerem o fruto do conhecimento, foram severamente repreendidos e punidos, expulsos do paraíso, tiveram senso de malícia erótica e dois filhos, o trauma da morte do filho Abel pelo próprio irmão Caim, e nós, descendentes do primeiro casal , herdamos os seus débitos e  até hoje sofremos um sem-fim de percalços como forma de pagamento da dívida.
Dizem que os dois cônjuges, apesar da drástica punição, ainda muito tempo depois viviam a bater nos próprios peitos, orgulhosos de sua insubmissão:
-Tomamos uma porrada feia, comemos o pão que o diabo amassou, mas que ficou registrada na história a nossa rebeldia e coragem, ficou! - num discurso parecido com o dos líderes sindicais de hoje, que levam a categoria a que pertencem à greve e à derrota, com desconto de dias de paralisação, perda de emprego, rebaixamento de cargo, inúmeras humilhações e, acovardados,declaram, fugindo à luta  e tentando consolar os liderados:
- Ficamos sem aumento e houve um monte de demissões, não importa se ganhamos ou perdemos, e sim que ficou clara a nossa insatisfação e marcado o nosso protesto pela situação atual.
A serpente, sim, mais autêntica, inconformada, cônscia dos prejuízos sofridos, pragueja:
- Ah, que rábia! Por eso siempre digo: hay gobierno?  Soy contra!

Barão da Mata

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