Este espaço é dedicado a lançar
um pouco de luz aos incontáveis nomes que vemos, ouvimos e até mesmo dizemos no
dia a dia, percorrendo as ruas do Rio de Janeiro, muitas vezes sem ter a mínima
ideia de quem está recebendo homenagem e até mesmo se aquela é justa. Afinal de
contas, os heróis de nossa história estão sempre mais para Macunaíma, e mais recentemente, Tiririca.
Hoje:Alice Tibiriçá
Localização: bairro Vila da Penha, zona norte.
Homenagem justa? SIM
Nasceu
em 09/01/1886, com o nome de Alice Toledo Ribas, em Ouro Preto, MG, onde viveu
até 1898, quando mudou-se com a família para o bairro de Laranjeiras, no Rio de
Janeiro. Durante o ano seguinte, perdeu os pais e mudou-se para São Paulo para
viver com as tias.
Em
1912, casou-se com João Tibiriçá Neto (filho do senador Jorge Tibiriçá), de
quem herdou o sobrenome.
Mudou-se
para o Maranhão, acompanhando o marido, que houvera sido encarregado da
construção de uma estrada de ferro naquele Estado. Durante este período, deu
início a uma campanha de combate à lepra, que logo se expandiu por todo o país.
De
volta ao Rio, em 1915, deu continuidade às iniciativas, liderando o pleito para
que a enfermidade passasse a ser chamada de hanseníase. Até que, em 1926, criou a
Sociedade de Assistência às Crianças Lázaras, que mais tarde se tornou
Sociedade de Assistência aos Lázaros e Defesa contra a Lepra (SALDCL). Sempre
assinalando tratar-se de uma obra de solidariedade e não de caridade, lançou
perto de uma centena de agremiações filiadas por todo o país.
Em 1929, foi eleita presidente da Federação das Sociedades, e graças a seu empenho, em 1933 realizou-se no Rio de Janeiro (então Distrito Federal) a Conferência para a Uniformização da Campanha contra a Lepra, que resultou um Plano Geral de Combate à Hanseníase.
Por conta de sua liderança, passou a lidar com confrontos de natureza política. Presenciou o retrocesso no tratamento de leprosos, quando em 1932, por responsabilidade do diretor da Inspetoria de Moléstias Infecciosas, F. Sales Gomes, todo o trabalho de humanização no tratamento da hanseníase foi substituído por medidas drásticas, como o isolamento dos doentes. Nesta época, ela escreveu um livro, “Como eu vejo o problema da lepra”, editado em 1934, através do qual denunciou os maus-tratos sofridos pelos doentes.
Ainda na área da medicina social, conseguiu a
unificação das entidades de combate à tuberculose, criando, a pedido dos
médicos psiquiatras, a Sociedade de Amparo aos Psicopatas, e uma entidade de
apoio aos cegos.
Por
sua dedicação, recebeu o reconhecimento do Comitê de Higiene da Liga das Nações
Unidas. Por Austregésilo de Athaíde, foi
chamada de “santa leiga”.
Alice também se destacou na luta pelos direitos das mulheres. Representou a
seção paulista da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino no II Congresso
Internacional Feminista, realizado no Rio de Janeiro em 1931.
Em 1945, separada do marido, Alice lançou-se em campanha contra a carestia, com
o apoio do Partido Comunista do Brasil (PCB). Ao mesmo tempo, em 1946, dirigiu
o Instituto Feminino de Serviço Construtivo e fez realizar, pela primeira vez
no Brasil, a 8 de março de 1947, as comemorações do Dia Internacional da
Mulher.
Foi a primeira presidente da Federação de Mulheres do Brasil, entidade fundada
em 1949 que centralizava as atividades das diversas organizações de mulheres do
país, exercendo o cargo até a sua morte, no ano seguinte.
Nos
últimos anos de vida, ainda participou ativamente da campanha “O petróleo é
nosso”, ocupando a vice-presidência do Centro Nacional de Estudos e Defesa do
Petróleo. Destacou-se como grande oradora e conhecedora do problema, e chegou a
ser presa em agosto de 1949, numa
passeata promovida pela associação de Mulheres de São Paulo para anunciar o
Congresso da Paz. Foi levada para São Roque e, enquanto esteve presa,
desenvolveu-se intensa campanha “Onde está Alice?”. O último ato público de que
participou foi a comemoração do Dia Internacional da Mulher, em 8 de março de
1950, aos 64 anos. Faleceu, vítima de câncer, em 8 de junho do mesmo ano.
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